sexta-feira, 11 de setembro de 2020

O RECONHECIMENTO DE UM ESPÍRITA


O RECONHECIMENTO DE UM ESPÍRITA

Na "Revista Espírita" de Abril de 1863, no artigo intitulado "Resultados da leitura das obras espíritas", Allan Kardec traz-nos a carta de um espírita, que merece a nossa atenção, devido à riqueza do seu conteúdo e que nos poderá servir, igualmente, para refletirmos acerca do que o Espiritismo tem trazido às nossas vidas.
Passamos a transcrever:
"Depois de seis meses que tenho a felicidade de ser iniciado na Doutrina Espírita, senti nascer em mim um vivo sentimento de reconhecimento. Aliás, tal sentimento não passa de uma consequência muito natural da crença no Espiritismo. E, desde que tem sua razão de ser, deve igualmente manifestar-se. Em minha opinião, deve dividir-se em três partes, da qual a primeira é Deus, a quem diariamente cada espírita deve agradecer esta nova prova de sua infinita misericórdia; a segunda pertence de direito ao próprio Espiritismo, isto é, aos bons Espíritos e seus sublimes ensinamentos; enfim, a terceira, àquele que nos guia em nossa nova estrada, e que nos sentimos felizes ao reconhecê-lo como nosso mestre venerado.
Assim compreendido o reconhecimento espírita, três deveres distintos se impõem: para com Deus, para com os bons Espíritos e para com o propagador de seus ensinamentos. Tenho esperança de me desobrigar para com Deus, pedindo-lhe perdão de meus erros passados e continuando a orar diariamente. Tentarei pagar minha dívida ao Espiritismo, espalhando em meu redor, tanto quanto esteja em minha pouca força, os benefícios da instrução espírita. E o fim desta carta é vos testemunhar, senhor, o vivo desejo que sentia de me desobrigar para convosco, o que me acuso de fazer tão tardiamente. Apelo, pois, à vossa caridade e vos peço aceiteis esta sincera homenagem de um reconhecimento sem limites.
Associando-me de coração aos que me precederam, venho dizer-vos: Obrigado a vós que nos haveis tirado do erro, fazendo brilhar sobre nós o facho da verdade; obrigado a vós que nos destes a conhecer os meios de chegar à verdadeira felicidade pela prática do bem; obrigado a vós, que não temeis ser o primeiro a entrar na luta. (...)
Durante dois anos ouvi falar do Espiritismo sem lhe dar atenção séria. Julgava, como diziam seus adversários, tratar-se de mais uma palhaçada. Mas, enfim, fatigado de ouvir falar de uma coisa da qual apenas sabia o nome, resolvi instruir-me. Adquiri O livro dos Espíritos e O livro dos médiuns. Li, ou melhor, devorei essas duas obras com uma avidez e uma satisfação impossível de definir. Qual não foi minha surpresa, lançando os olhos sobre as primeiras páginas, ao ver que se tratava de filosofia moral e religiosa, quando eu esperava ler um tratado de magia acompanhado de histórias maravilhosas! Logo a surpresa deu lugar à convicção e ao reconhecimento. Quando terminei a leitura, percebi com felicidade que era espírita há muito tempo. Agradeci a Deus que me concedia este insigne favor. De agora em diante poderei orar sem temer que minhas preces se percam no espaço, e suportarei com alegria as tribulações desta curta existência, sabendo que a minha miséria atual não passa de justa consequência de um passado culposo ou de um período de prova para alcançar um futuro melhor. Não mais a dúvida. A justiça e a lógica nos desvendam a verdade. E nós aclamamos com felicidade esta benfeitora da Humanidade."
"Revista Espírita", Allan Kardec - Abril de 1863 «Resultados da leitura das obras espíritas»

Sem comentários:

Enviar um comentário