sábado, 19 de setembro de 2020

BENEDITA FERNANDES - HISTÓRIA DO ESPIRITISMO


BENEDITA FERNANDES - HISTÓRIA DO ESPIRITISMO


Há vidas que se cruzam com a nossa, direta ou indiretamente e que nos inspiram pela mensagem que encerram mas, também, pelas lutas vencidas uma vez que todos trazemos possibilidades de êxito na encarnação.
Benedita Fernandes foi uma dessas vidas que nos deixou um autêntico legado.

“Benedita Fernandes nasceu no dia 27 de Junho de 1883 em Campos Novos de Cunha (SP) e desencarnou em Araçatuba no dia 9 de Outubro de 1947.

O ingresso de Benedita Fernandes nas ações espíritas foi muito peculiar.

Portadora de atroz obsessão, autêntica subjugação, Benedita perdeu o contacto com a família e perambulava sem rumo.

Certa feita, causava tantos incómodos à população que foi recolhida à Cadeia Pública da cidade de Penápolis. Naquela época não existiam hospitais ou atendimentos para tal fim. O carcereiro Padial e depois o Sr. Marcheze deram assistência à mulher doente, principalmente com passes. Ela recobrou a consciência e resolveu rumar para Araçatuba.

Como gratidão pelo benefício, a mulher simples, negra e semi-analfabeta, juntamente com outras lavadeiras começou a erguer casinhas de madeira no então Bairro Dona Ida (hoje Santana), nos idos de 1927.

Benedita transformou-se em pioneira da assistência social espírita em toda a região Noroeste do Estado de São Paulo, ao fundar a Associação das Senhoras Cristãs, no dia 6 de Março de 1932, em Araçatuba. Como esta obra originou o Sanatório; ela é também, provavelmente, uma das pioneiras dos Hospitais Psiquiátricos Espíritas.

A reunião para fundação da Associação ocorreu nas dependências do Centro Espírita “Paz, Amor e Caridade”, no mesmo bairro. Entre os presentes, destacamos o pioneiro do movimento espírita araçatubense, o Sr. Gedeão Fernandes de Miranda.

A ação assistencial desdobrou-se com inauguração do prédio próprio em 1933. Por exigência dos órgãos governamentais, o trabalho foi desdobrado em duas ações específicas, de atendimento a doentes mentais e a crianças órfãs e carenciadas.

Assim, surgia a “Casa da Criança” e o Asilo Dr. Jaime de Oliveira”. Estas instituições foram, respectivamente, desativadas e transformadas em Sanatório que homenageia Benedita, nos anos 50, após a desencarnação da fundadora.

Benedita Fernandes também oferecia uma classe de aula em convênio com a Prefeitura Municipal e mantinha um albergue noturno.

Benedita Fernandes tornou-se igualmente uma das pioneiras do atual movimento de unificação dos espíritas quando fundou no dia 3 de Agosto de 1940 a União Espírita Regional da Noroeste, sendo eleita sua presidente. Todavia, este movimento, na realidade, somente vicejou com a fundação da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, em 1947.

Assim, Benedita atuava no movimento espírita da cidade, fazia visitas e campanhas na região. Mantinha correspondência com Cairbar Schutel, que sempre publicava notícias sobre o trabalho dela no histórico jornal “O Clarim”. Era visitada por lideranças expressivas como João Leão Pitta e por Leopoldo Machado. Inclusive a este acompanhou até uma histórica confraternização espírita na cidade de Cruzeiro, SP. O pioneiro Dr. Tomaz Novelino (de Franca, SP) também se refere a reunião que participou com Benedita, a propósito de doentes mentais.

Emília Santos, igualmente biografada, e muitos líderes da época foram colaboradores de Benedita. Ela contava com o apoio de autoridades municipais e estaduais, dos espíritas, da maçonaria e do povo em geral.

Há muitos episódios enobrecedores sobre sua dedicação à causa do bem, entremeados da interação com a comunidade.

Atualmente, suas antigas obras restringem-se ao Sanatório “Benedita Fernandes”. Como homenagem, a rua do Sanatório, no Bairro Santana, também tem seu nome. Temos localizado inúmeras instituições espíritas de São Paulo e de outros Estados que têm seu nome designando instituições espíritas ou departamento delas.

Um fato que contribuiu para divulgar o trabalho de Benedita Fernandes.

Benedita Fernandes, abnegada fundadora da Associação das Senhoras Espíritas Cristãs, de Araçatuba, no Estado de São Paulo, foi convidada para uma reunião de damas consagradas à caridade, para exame de vários problemas ligados a obras de assistência. E porque se dedicava, particularmente, aos obsidiados e doentes mentais, não pode esquivar-se.

Entretanto, a presença da conhecida missionária causava espécie.

O domingo era de imenso calor e Benedita ostentava compacto mantô de lã, apenas compreensível em tempo de frio.

– Mania! – cochichava alguém, à pequena distância.

– De tanto lidar com malucos, a pobre espírita enlouqueceu...-

– dizia elegante senhora à companheira de poltrona, em tom confidencial.

– Isso é pura vaidade, – falou outra – ela quer parecer diferente.

– Caso de obsessão! – certa amiga lembrou em voz baixa.

– Benedita, porém, opinava nos temas propostos, cheia de compreensão e de amor.

Em meio aos trabalhos, contudo, por notar agitações na assembléia, a presidente alegou que Benedita suava por todos os poros, e, em razão disso, rogou-lhe que tirasse o mantô por gentileza.

Benedita Fernandes, embora constrangida, obedeceu com humildade e só aí as damas presentes puderam ver que a mulher admirável, que sustentava em Araçatuba dezenas de enfermos, com o suor do próprio rosto, envergava singelo vestido de chitão com remendos enormes.”

“Obra de Vultos”, Antonio Cesar Perri de Carvalho - Use Regional De Araçatuba, 1. Edição, 1999

“Não digais, ao verdes um irmão ferido: «É a justiça de Deus, e é necessário que siga o seu curso», mas dizei, ao contrário: «Vejamos que meios nosso Pai Misericordioso concedeu-me, para aliviar o sofrimento de meu irmão. Vejamos se o meu conforto moral, meu amparo material, meus conselhos, poderão ajudá-lo a transpor esta prova com mais força, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer cessar este sofrimento; se não me deu, como prova também, ou talvez como expiação, o poder de cortar o mal e substituí-lo pela benção da paz.» (...)

O espírita deve pensar que a sua vida inteira tem de ser um acto de amor e de abenegação. (...) Estais todos na Terra para expiar; mas todos sem excepção, deveis fazer esforços para aliviar a expiação de vossos irmãos, segundo a lei de amor e caridade.”

Bernardin, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Karde – Capítulo V “Bem-Aventurados os Aflitos”, Item 27

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