sábado, 15 de agosto de 2020

Os batalhadores do Evangelho




OS BATALHADORES DO EVANGELHO

"Logo após fundar o Lar “Anália Franco”, na cidade de São Manuel, no Estado de São Paulo, viu-se D. Clélia Rocha em sérias dificuldades para mantê-lo.
Tentando angariar fundos de socorro, a abnegada senhora conduzia crianças, aqui e ali, em singelas atividades artísticas. Acordava almas. Comovia corações. E sustentava o laborioso período inicial da obra.
Desembarcando, certa noite, em pequena cidade, foi alvo de injusta manifestação antiespírita. Apupos. Gritaria. Condenações.
D. Clélia, com o auxílio de pessoas bondosas, protege as crianças. Em meio à confusão, vê que um moço robusto se aproxima e, marcando-lhe a cabeça, atira-lhe uma pedra.
O golpe é violento. O sangue escorre. Mas a operosa servidora do bem procede como quem desconhece o agressor.
Medica-se depois. Há espíritas devotados que surgem. D. Clélia demora-se por mais de uma semana, orando e servindo.
Acabava de atender a um doente em casa particular, quando entra senhora aflitíssima. É mãe. Tem o filho acamado com meningite e pede-lhe auxílio espiritual.
D. Clélia não vacila. Corre ao encontro do enfermo e, surpreendida, encontra nele o jovem que a ferira.
Febre alta. Inconsciência. A missionária desdobra-se em desvelo.
Passes. Vigílias. Orações. Enfermagem carinhosa.
Ao fim de seis dias, o doente está salvo. Reconhece-a envergonhado e, quando a sós, beija-lhe respeitosamente as mãos e pergunta:
— A senhora me perdoa?
Ela, contudo, disse apenas, com brandura:
— Deus te abençoe, meu filho.
Mas o exemplo não ficou sem fruto, porque o moço recuperado fez-se valoroso militante da Doutrina Espírita e, ainda hoje, onde se encontra é denodado batalhador do Evangelho."

Hilário Silva, em "O Espírito da Verdade", Autores Diversos/Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira

Há situações muito particulares, na nossa vida, que conseguem desafiar os nossos limites, testando quem estamos, de facto.

Se, em alguns desses momentos, conseguirmos ter compaixão por quem falha, não iremos sentir vontade de utilizar a vingança como resposta. Foi este o exemplo de compaixão que D.Clélia deu.

Porventura, não teremos já deixado, ainda que inconscientemente, corações em pranto por encontrarem em nós incompreensão ou por se sentirem lesados de alguma forma?

Isto não significa que sejamos coniventes com o erro e muito menos que nos sintamos felizes quando o mal nos atinge. Mas tal como nos é dito em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, Jesus não quis proibir a defesa e sim condenar a vingança.

Muitas vezes, existe uma interpretação errada acerca do que é amar os inimigos.

Defendemo-nos da chuva, do frio e de vários outros agentes externos que nos trazem instabilidade e que, em demasia, colocam a nossa integridade física e mental em risco. Logo é natural que nos defendamos de alguém que, outrora, já nos demonstrou provas das suas dificuldades morais, na relação com o próximo. Por outro lado, isto não significa que este coração fique, indeterminadamente, no erro. Pode, de facto, vir a mudar de rota mas também é legítimo que em nós encontre algumas reservas. Não rotulemos o outro, pois também não gostamos de ser rotulados pejorativamente. Não raras vezes, aqueles que rotulamos negativamente já estão com características muito diferentes, uma vez que o tempo passou e eles podem ter acompanhado essa evolução de forma profícua.

“Somente a fé na vida futura e na justiça de Deus, que jamais deixa impune o mal, pode dar ao homem forças para suportar com paciência os golpes que lhe sejam desferidos nos interesses e no amor-próprio.”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec

Decerto, há situações muito difíceis pois também existem momentos em que encontramos dificuldades, na nossa vida, criadas por terceiros, com quem nos cruzámos um dia e, por esta razão é-nos, de todo, difícil atender à compreensão para com eles.

Embora saibamos da Justiça Divina é no momento presente que as dificuldades também ocorrem então a confiança em Deus é a nossa âncora de salvação, também nessas circunstâncias, pedindo forças a Deus para suportar a situação e orientação para bem fazê-lo.

“Eis porque vos repetimos incessantemente: Lançai para diante o olhar; quanto mais vos elevardes pelo pensamento, acima da vida material, tanto menos vos magoarão as coisas da Terra.”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec

“Lançar os olhos para o futuro”, é no sentido de tranquilizar o nosso coração, dizendo-nos que o facto de hoje já não nos comprometer-nos (vingança) perante comportamentos que nos são dirigidos e que nos causam sofrimento, já é um indicador de progresso e do entendimento maior, que consiste em colocar Deus entre nós e a dor.

“Disse-nos o Senhor -"Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem.”
Isso não quer dizer que devamos ajoelhar em pranto de penitência ao pé de nossos adversários, mas sim que nos compete viver de tal modo que eles se sintam auxiliados por nossa atitude e por nosso exemplo, renovando-se para o bem, de vez que, enquanto houver crime e sofrimento, ignorância e miséria no mundo, não podemos encontrar sobre a Terra a luz do Reino do Céu.”
“Palavras de Vida Eterna”, Emmanuel/Francisco Cândido Xavier

O nosso bom exemplo de conduta, perante os inimigos encarnados e desencarnados, já não nos reverem nos comportamentos transatos ou que esperassem que tivéssemos é importante para nós e para a futura mudança deles.

“Não é a posição que exalta o trabalhador, mas sim o comportamento moral com que se conduz dentro dela”
“Conduta Espírita”, André Luiz/Waldo Vieira

Não nos basta dizermo-nos espíritas, trabalhar no seio da Doutrina Espírita, mas revelarmo-nos como tal (espíritas).

Podemos ter dificuldades mas podemos aplicar o Evangelho em cada uma delas. Isto é: sermos batalhadores do Evangelho.

“Como, pois, recebestes o Senhor Jesus Cristo, assim também andai Nele”
Paulo - Colossenses – 2:7

Este é um convite que nos é deixado por Paulo: aprendermos a sentir compaixão.

Recordemos sempre o supremo exemplo de Jesus quando mostrou o amor aos inimigos, nos derradeiros momentos, dizendo:

“Senhor, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem…”

Deixemo-nos inspirar pelo Seu exemplo!

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