terça-feira, 27 de outubro de 2020

AUTO DE FÉ DE BARCELONA



AUTO DE FÉ DE BARCELONA

Aconteceu a nove de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, em Barcelona, perante uma imensa multidão.
Apesar de se tratar de uma ofensiva da Inquisição da Igreja Católica, contra a Doutrina Espírita, tornou-se um marco para a História do Espiritismo, não só pelo impacto como também pelas consequências em ambos os planos da vida e na Doutrina dos Espíritos.
Vejamos a sua história, na obra "Revista Espírita", de Allan Kardec, num artigo de Novembro de 1861:
“Hoje, nove de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, às dez e meia da manhã, na esplanada da cidade de Barcelona, no lugar onde são executados os criminosos condenados ao último suplício, e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber:
A Revista Espírita, diretor Allan Kardec;
A Revista Espiritualista, diretor Piérard;
O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec;
O Livro dos Médiuns, pelo mesmo;
O Que é o Espiritismo, pelo mesmo;
Fragmento de sonata ditada pelo Espírito de Mozart;
Carta de um católico sobre o Espiritismo, pelo Dr. Grand;
A História de Joana d’Arc, ditada por ela mesma à Srta. Ermance Dufaux;
A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta, pelo Barão de Goldenstubbe.
Assistiram ao auto de fé:
Um sacerdote com os hábitos sacerdotais, com a cruz numa mão e uma tocha na outra;
Um escrivão encarregado de redigir a ata do auto de fé;
O secretário do escrivão;
Um empregado superior da administração da alfândega;
Três serventes da alfândega, encarregados de alimentar o fogo;
Um agente da alfândega representando o proprietário das obras condenadas pelo bispo.
Uma inumerável multidão enchia as calçadas e cobria a imensa esplanada onde se erguia a fogueira.”
Sempre que há violência exercida para combater a verdade, ainda que materialmente se consiga o feito, no plano espiritual assim não acontecerá, uma vez que, a verdade sempre subsistirá, para mais à frente ser revelada.
Ainda assim, tudo o que acontece no plano físico também influencia o plano espiritual uma vez que os dois planos estão sempre em comunicação.
“Quando o fogo consumiu os trezentos volumes ou brochuras espíritas, o sacerdote e seus ajudantes se retiraram, cobertos pelas vaias e maldições de numerosos assistentes, que gritavam:
Abaixo a Inquisição!
Várias pessoas, a seguir, aproximaram-se da fogueira e recolheram cinza.
Uma parte dessas cinzas nos foi enviada, onde se encontra um fragmento do Livro dos Espíritos, consumido pela metade, que nós conservamos preciosamente, como um testemunho autêntico desse ato de insensatez.”
Queriam abafar a Doutrina Espírita mas muitos foram os que, graças a este episódio, se interessaram pelo conteúdo das obras queimadas.
“Se examinarmos o caso do ponto de vista de suas consequências, diremos, para começar, não haver dúvida de que nada poderia ser mais favorável ao Espiritismo.
A perseguição sempre foi proveitosa à ideia que se quer proscrever.”
Embora tenha sido a inquisição a provocar toda esta situação, muitos eram os que tinham consequências desastrosas, nas suas vidas, por efeitos de atos da inquisição e também por isso quiseram conhecer o que os autores dos seus sofrimentos estavam a querer exterminar, uma vez mais.
“Por ela se exalta a sua importância, chama-se a atenção dos que a ignoravam e que passam a conhecê-la. Graças a esse zelo imprudente, todo o mundo na Espanha vai ouvir falar do Espiritismo e quererá saber o que é ele.
Eis tudo quanto desejamos.”
Até nos incrédulos, o interesse se suscitou.
“Podem queimar-se livros, mas não se queimam ideias. As chamas das fogueiras superexcitam-nas, em vez de abafá-las. Aliás, as ideias estão no ar, e não há Pireneus bastante altos para detê-las. Quando uma ideia é grande e generosa, encontra milhares de corações prontos a aspirar por ela.”
Ainda que se queimassem todas as obras espíritas, não poderiam queimar os espíritos e eles voltariam a transmitir, cada uma delas.
“A despeito do que tenham feito, o Espiritismo já tem numerosas e profundas raízes na Espanha. As cinzas dessa fogueira vão fazê-las frutificar. Mas não é só na Espanha que se produzirá tal resultado.
O mundo inteiro sentirá as suas consequências.”
Este acontecimento foi notícia, foi publicado em jornais e espalhou-se por todo o mundo.
Até aqueles que negam o espiritismo, que o blasfemam, que o caluniam, irão, um dia desejá-lo e aceitá-lo.
Irão direcionar a inteligência que utilizam para o mal, no Bem.
Naquele dia, muitos foram buscar parte das cinzas, tentando recuperar as obras queimadas.
Sem aquele acontecimento, muito provavelmente, não teriam acesso ao conteúdo do Espiritismo, não teriam aquele apoio moral
“Espíritas de todos os países! Não esqueçais a data de 9 de outubro de 1861. Ela ficará marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é o penhor de vosso próximo triunfo!”
“Obras Póstumas”, Allan Kardec
No local onde todos estes acontecimentos ocorreram, encontra-se, hoje, um jardim.
É também graças a todos aqueles que travaram os combates necessários para que a mensagem da Doutrina subsistisse, que temos, hoje, acesso ao Espiritismo.

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