sábado, 31 de outubro de 2020

AS PRIMEIRAS ENCARNAÇÕES

AS PRIMEIRAS ENCARNAÇÕES

O início da nossa vida no reino hominal, suscita-nos muita curiosidade, mas os Espíritos Superiores são categóricos, quanto a este assunto, ajudando-nos a saber o estritamente necessário e útil para o nosso momento evolutivo, enquanto Espíritos Imortais.
Vejamos o artigo que se segue, inserido na obra "Revista Espírita", de Allan Kardec:
"Pergunta. Duas almas criadas simples e ignorantes não conhecem o bem nem o mal ao virem à Terra. Se, nessa primeira existência, uma segue o caminho do bem e a outra o do mal, como, de certo modo, é o acaso que as conduz, elas não merecem castigo nem recompensa. Essa primeira viagem terrestre não deve ter servido senão para dar a cada uma delas a consciência de sua existência, consciência que antes não tinham.
Para ser lógico, seria preciso admitir que os castigos e as recompensas não começariam a ser infringidos ou concedidas senão a partir da segunda encarnação, quando os Espíritos já sabem distinguir o bem do mal, experiência que lhes faltava quando de sua criação, mas que adquiriam por meio da primeira encarnação. Tal opinião tem fundamento?
Resposta. Posto a pergunta já esteja resolvida pela Doutrina Espírita, vamos responder, para instrução de todos.
Ignoramos absolutamente em que condições se dão as primeiras encarnações da alma, porque é um dos princípios das coisas que estão nos segredos de Deus. Apenas sabemos que são criadas simples e ignorantes, tendo todas, assim, o mesmo ponto de partida, o que é conforme à justiça. O que também sabemos é que o livre-arbítrio só se desenvolve pouco a pouco, e após numerosas evoluções na vida corpórea. Não é, pois, nem após a primeira, nem após a segunda encarnação que a alma tem consciência bastante nítida de si mesma para ser responsável por seus atos. Pode ser que só aconteça após a centésima ou talvez após a milésima. Dá-se o mesmo com a criança, que não goza da plenitude de suas faculdades nem um nem dois dias após o nascimento, mas depois de anos. Além disto, quando a alma goza do livre-arbítrio, a responsabilidade cresce em razão do desenvolvimento de sua inteligência. É assim, por exemplo, que um selvagem que come os seus semelhantes é menos castigado que o homem civilizado que comete uma simples injustiça. Sem dúvida os nossos selvagens estão muito atrasados em relação a nós, contudo, já estão bem longe de seu ponto de partida.
Durante longos períodos, a alma encarnada é submetida à influência exclusiva do instinto de conservação. Pouco a pouco esses instintos se transformam em instintos inteligentes, ou melhor, se equilibram com a inteligência, e só mais tarde, e sempre gradativamente, a inteligência domina os instintos. Só então é que começa a séria responsabilidade.
Além disso, o autor da pergunta comete dois erros graves. O primeiro é o de admitir que o acaso decide do bom ou do mau caminho que o Espírito segue em seu princípio. Se houvesse acaso ou fatalidade, toda responsabilidade seria injusta. Como dissemos, o Espírito fica num estado inconsciente durante numerosas encarnações; a luz da inteligência só se faz pouco a pouco e a responsabilidade real só começa quando o Espírito age livremente e com conhecimento de causa.
O segundo erro é o de admitir que as primeiras encarnações humanas ocorram na Terra. A Terra foi, mas não é mais um mundo primitivo. Os mais atrasados seres humanos que se encontram na face da Terra já se despojaram dos primeiros cueiros da encarnação, e nossos selvagens estão em progresso, comparativamente ao que eram antes que seu Espírito viesse encarnar neste globo. Julgue-se agora o número de existências necessárias a esses selvagens para transporem todos os degraus que os separam da mais adiantada civilização. Todos esses degraus intermediários se acham na Terra sem solução de continuidade, e podem ser seguidos observando-se as nuanças que distinguem os vários povos. Só o começo e o fim aí não se encontram, e o começo se perde, para nós, nas profundezas do passado, que não nos é dado penetrar. Aliás, isto pouco importa, pois tal conhecimento nada significaria para nós em termos de evolução.
Nós não somos perfeitos, eis o que é positivo. Sabemos que nossas imperfeições são o único obstáculo à nossa felicidade futura. Estudemos, pois, a fim de nos aperfeiçoarmos.
No ponto em que estamos, a inteligência está bastante desenvolvida para permitir ao homem julgar criteriosamente o bem e o mal, e é também neste ponto que a sua responsabilidade é mais seriamente empenhada, porque não mais se pode dizer o que dizia Jesus: “Perdoai-lhes, Senhor, pois não sabem o que fazem.”
"Revista Espírita", Allan Kardec - Janeiro de 1864 «Progresso nas primeiras encarnações»

"Em relação ao Espiritismo..."

"[Em relação ao Espiritismo] Um estudo prévio, sério, é o único meio de levar à convicção; muitas vezes mesmo isto basta para mudar inteiramente o curso das ideias."

"Revista Espírita", Allan Kardec - Abril de 1864

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

NUNCA DESFALECER

NUNCA DESFALECER

Por vezes, sentimos muitos obstáculos, desafios, incompreensões e, até, solidão, no rumo que escolhemos.
Respeitemos o momento do outro e sigamos o nosso. Um dia, todos nos encontraremos no mesmo caminho.
Channing, na obra "O Livro dos Médiuns", de Allan Kardec, traz-nos uma mensagem de esperança e coragem para prosseguirmos no sentido de Jesus, sem desfalecimentos ou hesitações.
"Qual a instituição humana, ou mesmo divina, que não encontrou obstáculos a vencer, cismas contra que lutar? Se apenas tivésseis uma existência triste e lânguida, ninguém vos atacaria, sabendo perfeitamente que havíeis de sucumbir de um momento para outro. Mas, como a vossa vitalidade é forte e ativa, como a árvore espírita tem fortes raízes, admitem que ela poderá viver longo tempo e tentam golpeá-la a machado. Que conseguirão esses invejosos? Quando muito, deceparão alguns galhos, que renascerão com seiva nova e serão mais robustos do que nunca."
"O Livro dos Médiuns", Allan Kardec

"O mal é sempre o mal..."

"O mal é sempre o mal e não há sofisma que faça se torne boa uma ação má."

"O Livro dos Espíritos", Allan Kardec

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

COMO PODEREMOS RESISTIR A NÓS MESMOS?


COMO PODEREMOS RESISTIR A NÓS MESMOS?

O caminho do aperfeiçoamento íntimo está repleto de momentos em que o combate acontece dentro de nós, em resistência firme para nos afastarmos de quem fomos.
Como ocorre essa resistência?
Disso nos fala Santo Agostinho, na obra "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec:
“919. Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?”
" - Um sábio da Antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo.”
"919. a) – Conhecemos toda a sabedoria desta máxima; porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?"
" - Fazei o que eu fazia quando vivi na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltara a algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a conhecer-me e a ver o que em mim precisava de reforma.”
– Santo Agostinho
-“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, “Parte terceira” – “Das leis morais” > “Capítulo XII - Da perfeição moral” > “Conhecimento de si mesmo

"Amigos, vigiai e orai..."

"Amigos, vigiai e orai; estamos junto de vós e do leito dos sofrimentos para secar as lágrimas."

"Revista Espírita", Allan Kardec - Junho de 1864

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

MARIA RITA DE SOUZA BRITO LOPES PONTES (Irmã Dulce)

MARIA RITA DE SOUZA BRITO LOPES PONTES (Irmã Dulce)

"Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em Salvador, dia 26 de maio de 1914, e, aos 20 anos de idade, consagra sua vida à castidade, pobreza e obediência, recebendo o nome de Irmã Dulce. Sua pequena estatura e fragilidade física contrastavam com o caráter independente e obstinado que marcaram sua luta e sua coragem para defender os pobres e os doentes. Um dos fatos mais marcantes dessa coragem foi ter invadido cinco casas vazias, na Ilha dos Ratos, para abrigar e cuidar de mendigos e doentes que recolhia nas ruas. Incompreendida pelo seu gesto fraterno, foi expulsa do local por ordens municipais, e durante dez anos bateu de porta em porta, na cidade de Salvador, apelando ao povo, nos mercados e feiras livres, por um pouco de comida para alimentar seus assistidos, assim como foi ao encontro das autoridades, prefeitos e governadores, rogando por um espaço onde pudesse abrigar a sua obra. O único lugar que lhe ofereceram foi um antigo galinheiro no Convento de Santo Antônio, que sua criatividade e o amor transformaram num albergue. Mais tarde, com a doação de um terreno pelo governo da Bahia, seu trabalho e o sonho de servir transformaram o albergue no Hospital Santo Antônio A dedicação e o tempo fariam desse local a sua grande obra de caridade, estruturada num centro médico, social e educacional que atende pobres, doentes e abandonados de toda parte
Sua imensa bondade começou a repartir-se aos treze anos, entre os miseráveis e carentes que cruzavam o caminho de seu coração no portão de sua casa, transformada num centro de atendimento aos filhos do calvário. Contudo, os passos determinados na sua missão começam aos 20 anos, como professora e enfermeira voluntária, ensinando e assistindo as comunidades pobres nas favelas de Alagados e de Itapegipe, na Cidade Baixa, área onde viriam a se concentrar as principais atividades das suas Obras Sociais, na cidade de Salvador.
Em 1936, ela fundou o primeiro movimento cristão operário de Salvador chamado União Operária São Francisco. Para conseguir financiar o número sempre crescente dos seus assistidos, sua criatividade não tinha limites. Com o franciscano alemão Frei Hildebrando Kruthaup construiu três cinemas, uma fonte autossustentável com cuja renda mantinha o Círculo Operário da Bahia, aberto por ambos em 1937, para atender os filhos dos trabalhadores pobres proporcionando atividades culturais e recreativas, além de uma escola de ofício.
Sua grande obra é o Hospital Santo Antônio, capaz de atender setecentos pacientes e duzentos casos ambulatoriais. A assistência médica conta com especialização geriátrica, cirúrgica, hospital infantil, centro de atendimento e tratamento de alcoolismo, clínica feminina, unidade de coleta e transfusão de sangue, laboratórios, um centro de reabilitação e prevenção de deficiências. A instituição, que atende a população carente e oferece exames de alta complexidade, é considerada pelo Ministério da Saúde como o maior complexo de saúde do Brasil com atendimento 100% SUS.
Mas a dimensão das suas obras sociais não para por aí. Irmã Dulce criou também o Centro Educacional Santo Antônio, instalado na pequena cidade de Simões Filho, na Região Metropolitana de Salvador, onde são abrigadas mais de trezentas crianças de 3 a 17 anos, educadas e encaminhadas para cursos profissionalizantes. Sua imensa obra social se completa com o Centro Geriátrico Júlia Magalhães, um asilo que é tido como referência do Ministério da Saúde no atendimento ao idoso, pela qualidade integral da assistência ambulatorial e hospitalar para casos graves e pacientes crônicos.
Suas Obras Sociais – um complexo de 15 núcleos, que prestam atendimento nas áreas de saúde, assistência social, educação, ensino e pesquisa médica — estão entre as mais notáveis realizações assistenciais do Brasil. Católica por convicção, Irmã Dulce tornou-se uma das figuras mais proeminentes na área da religiosidade do séc. XX. Sua fé e a entrega de sua vida abraçando a bandeira da caridade foi, como a vida e a obra do espírita Francisco Cândido Xavier, um exemplo irretocável de ecumenismo e de amor aos semelhantes, que conquistou respeito de todos aqueles que colocam o Cristo acima das barreiras das religiões.
Assim a descreve a jornalista baiana Danutta Rodrigues:
“O que me chamava atenção em Irmã Dulce era a preocupação que ela tinha com o outro. Ela poderia estar cansada e era incapaz de transferir isso ao outro. Sempre procurava ouvir, ajudar, acompanhar. Ela sempre tinha um tempo para todos. Ela era um evangelho vivo”.
Em 11 de novembro de 1990, Irmã Dulce foi internada no Hospital Português com problemas respiratórios e depois transferida à UTI do Hospital Aliança e finalmente ao Hospital Santo Antônio. Em 20 de outubro de 1991, recebe no seu leito de enferma a visita do Papa João Paulo II. No dia 13 de março de 1992, aos setenta e sete anos, seu espírito deixa o corpo físico para voltar ao Mundo Maior com a certeza de sua missão cumprida. Inicialmente sepultada no alto do Santo Cristo, na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, seu corpo foi posteriormente transferido para a Capela do Hospital Santo Antonio, centro das Obras Assistenciais Irmã Dulce.
Nos jardins deste hospital há uma pequena placa onde se lê:
“O Galinheiro
Este espaço é o marco inicial das Obras Sociais de Irmã Dulce. Aqui existia o galinheiro do Convento Santo Antônio, onde em 1949, Irmã Dulce teve a permissão da madre superiora para abrigar 70 doentes que cuidava em espaços públicos e privados da cidade baixa.”
Viveu com “um pires na mão” rogando a Deus e aos homens que a ajudasse a socorrer os desamparados. Essa foi a determinação de seu espírito: fazer de sua vida um instrumento da fé e da caridade."
Fontes:
Gaetano Passarelli. O Anjo bom da Bahia. Paulinas, 2011.

"O Espiritismo é uma questão humanitária..."

"O Espiritismo é uma questão humanitária, seu futuro está nas mãos de Deus e não depende deste ou daquele passo do homem."

"Revista Espírita", Allan Kardec - Maio de 1864

terça-feira, 27 de outubro de 2020

AUTO DE FÉ DE BARCELONA



AUTO DE FÉ DE BARCELONA

Aconteceu a nove de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, em Barcelona, perante uma imensa multidão.
Apesar de se tratar de uma ofensiva da Inquisição da Igreja Católica, contra a Doutrina Espírita, tornou-se um marco para a História do Espiritismo, não só pelo impacto como também pelas consequências em ambos os planos da vida e na Doutrina dos Espíritos.
Vejamos a sua história, na obra "Revista Espírita", de Allan Kardec, num artigo de Novembro de 1861:
“Hoje, nove de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, às dez e meia da manhã, na esplanada da cidade de Barcelona, no lugar onde são executados os criminosos condenados ao último suplício, e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber:
A Revista Espírita, diretor Allan Kardec;
A Revista Espiritualista, diretor Piérard;
O Livro dos Espíritos, por Allan Kardec;
O Livro dos Médiuns, pelo mesmo;
O Que é o Espiritismo, pelo mesmo;
Fragmento de sonata ditada pelo Espírito de Mozart;
Carta de um católico sobre o Espiritismo, pelo Dr. Grand;
A História de Joana d’Arc, ditada por ela mesma à Srta. Ermance Dufaux;
A realidade dos Espíritos demonstrada pela escrita direta, pelo Barão de Goldenstubbe.
Assistiram ao auto de fé:
Um sacerdote com os hábitos sacerdotais, com a cruz numa mão e uma tocha na outra;
Um escrivão encarregado de redigir a ata do auto de fé;
O secretário do escrivão;
Um empregado superior da administração da alfândega;
Três serventes da alfândega, encarregados de alimentar o fogo;
Um agente da alfândega representando o proprietário das obras condenadas pelo bispo.
Uma inumerável multidão enchia as calçadas e cobria a imensa esplanada onde se erguia a fogueira.”
Sempre que há violência exercida para combater a verdade, ainda que materialmente se consiga o feito, no plano espiritual assim não acontecerá, uma vez que, a verdade sempre subsistirá, para mais à frente ser revelada.
Ainda assim, tudo o que acontece no plano físico também influencia o plano espiritual uma vez que os dois planos estão sempre em comunicação.
“Quando o fogo consumiu os trezentos volumes ou brochuras espíritas, o sacerdote e seus ajudantes se retiraram, cobertos pelas vaias e maldições de numerosos assistentes, que gritavam:
Abaixo a Inquisição!
Várias pessoas, a seguir, aproximaram-se da fogueira e recolheram cinza.
Uma parte dessas cinzas nos foi enviada, onde se encontra um fragmento do Livro dos Espíritos, consumido pela metade, que nós conservamos preciosamente, como um testemunho autêntico desse ato de insensatez.”
Queriam abafar a Doutrina Espírita mas muitos foram os que, graças a este episódio, se interessaram pelo conteúdo das obras queimadas.
“Se examinarmos o caso do ponto de vista de suas consequências, diremos, para começar, não haver dúvida de que nada poderia ser mais favorável ao Espiritismo.
A perseguição sempre foi proveitosa à ideia que se quer proscrever.”
Embora tenha sido a inquisição a provocar toda esta situação, muitos eram os que tinham consequências desastrosas, nas suas vidas, por efeitos de atos da inquisição e também por isso quiseram conhecer o que os autores dos seus sofrimentos estavam a querer exterminar, uma vez mais.
“Por ela se exalta a sua importância, chama-se a atenção dos que a ignoravam e que passam a conhecê-la. Graças a esse zelo imprudente, todo o mundo na Espanha vai ouvir falar do Espiritismo e quererá saber o que é ele.
Eis tudo quanto desejamos.”
Até nos incrédulos, o interesse se suscitou.
“Podem queimar-se livros, mas não se queimam ideias. As chamas das fogueiras superexcitam-nas, em vez de abafá-las. Aliás, as ideias estão no ar, e não há Pireneus bastante altos para detê-las. Quando uma ideia é grande e generosa, encontra milhares de corações prontos a aspirar por ela.”
Ainda que se queimassem todas as obras espíritas, não poderiam queimar os espíritos e eles voltariam a transmitir, cada uma delas.
“A despeito do que tenham feito, o Espiritismo já tem numerosas e profundas raízes na Espanha. As cinzas dessa fogueira vão fazê-las frutificar. Mas não é só na Espanha que se produzirá tal resultado.
O mundo inteiro sentirá as suas consequências.”
Este acontecimento foi notícia, foi publicado em jornais e espalhou-se por todo o mundo.
Até aqueles que negam o espiritismo, que o blasfemam, que o caluniam, irão, um dia desejá-lo e aceitá-lo.
Irão direcionar a inteligência que utilizam para o mal, no Bem.
Naquele dia, muitos foram buscar parte das cinzas, tentando recuperar as obras queimadas.
Sem aquele acontecimento, muito provavelmente, não teriam acesso ao conteúdo do Espiritismo, não teriam aquele apoio moral
“Espíritas de todos os países! Não esqueçais a data de 9 de outubro de 1861. Ela ficará marcada nos fastos do Espiritismo. Que ela seja para vós um dia de festa, e não de luto, porque é o penhor de vosso próximo triunfo!”
“Obras Póstumas”, Allan Kardec
No local onde todos estes acontecimentos ocorreram, encontra-se, hoje, um jardim.
É também graças a todos aqueles que travaram os combates necessários para que a mensagem da Doutrina subsistisse, que temos, hoje, acesso ao Espiritismo.

"Deus permite que às vezes sejais..."

"Deus permite que às vezes sejais pagos com a ingratidão, para provar a vossa perseverança em fazer o bem."

"O Evangelho Segundo o Espiritismo", Allan Kardec

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

FAZ SENTIDO ORAR PELOS QUE PRATICAM O MAL?



FAZ SENTIDO ORAR PELOS QUE PRATICAM O MAL?

É na obra "O Evangelho Segundo o Espiritismo" que Allan Kardec, referindo-se aos que estão condenados, nos traz esta resposta:
“Perguntamos se é lógico, é caridoso, é cristão não orar pelos condenados?
Lembrei-vos de que entre os condenados pode estar uma pessoa que vos foi querida, um amigo, talvez um pai, uma mãe ou um filho, e, só porque alguns pensam que ele não poderá ser perdoado, acaso lhe recusarieis um copo de água para matar a sede? O remédio para curar as duas feridas?
Negando-lhe tudo isso não serieis cristão. Deus coloca em primeiro lugar os deveres do amor ao próximo.”

"O Espiritismo é uma questão de..."



"O Espiritismo é uma questão de fé e de crença e não de associação."

"Revista Espírita", Allan Kardec - Julho de 1864

domingo, 25 de outubro de 2020

A LEI HUMANA

A LEI HUMANA

Na "Revista Espírita" de Março de 1866, Allan Kardec traz-nos um artigo em que este tema é abordado:
"Instruções do Espírito do Sr. Bonnamy, pai"
"A lei humana, como todas as coisas, está submetida ao progresso; progresso lento, insensível, mas constante.
Por mais admiráveis que sejam, para certas pessoas, as legislações antigas dos gregos e dos romanos, elas são muito inferiores às que governam as populações adiantadas de vossa época! ─ Com efeito, o que vemos na origem de cada povo? ─ Um código de costumes e usos tirando a sua sanção da força e tendo como motor o mais absoluto egoísmo. Qual o objetivo de todos os legisladores primitivos? ─ Destruir o para a maior paz da Sociedade. Suspeita-se do criminoso? ─ Não. Bate-se nele para corrigi-lo e lhe mostrar a necessidade de uma conduta mais moderada em relação aos seus concidadãos mal e seus instrumentos? É visando o seu melhoramento? ─ Absolutamente. É exclusivamente para preservar a Sociedade contra as suas ações, Sociedade egoísta que rejeita impiedosamente de seu seio tudo quanto lhe pode perturbar a tranquilidade. Assim, todas as repressões são excessivas e a pena de morte é mais geralmente aplicada.
Isto é concebível quando se considera a ligação íntima que existe entre a lei e o princípio religioso. Ambos avançam concordes, para um objetivo único, amparando-se mutuamente.
A religião sanciona todos os prazeres materiais e todas as satisfações dos sentidos? A lei dura e excessiva fere o criminoso para desembaraçar a Sociedade de um hóspede importuno. A religião se transforma, sanciona a vida da alma e sua independência da matéria? Ela reage também sobre a legislação, demonstra-lhe a responsabilidade que lhe incumbe, no futuro do violador da lei. Daí, a assistência do ministro, seja qual for, nos últimos momentos do condenado. Ainda o agridem, mas já têm a preocupação com esse ser que não morre inteiramente com o seu corpo, e cuja parte espiritual vai receber o castigo que os homens infligiram ao elemento material.
Na Idade Média e desde a era cristã, a legislação recebe do princípio religioso uma influência cada vez mais notável. Ela perde pouco de sua crueldade, mas seus móveis ainda absolutos e cruéis mudaram completamente de direção.
Assim como a Ciência, a Filosofia e a Política, a jurisprudência tem as suas revoluções, que não se devem operar senão lentamente, para serem aceitas pela generalidade dos seres a quem interessam. Uma nova instituição, para dar frutos, não deve ser imposta. A arte do legislador é preparar os espíritos de maneira a fazer com que a desejem e a considerem como um benefício... Todo inovador, por melhores que sejam as intenções que o animem, por mais louváveis que sejam os seus desígnios, será considerado como um déspota, cujo jugo é preciso sacudir, se ele quiser se impor, ainda mesmo que por benefícios. ─ Por seu princípio, o homem é essencialmente livre, e quer aceitar sem constrangimento. Daí as dificuldades que encontram os homens muito avançados para o seu tempo; daí as perseguições com que são abatidos. Eles vivem no futuro! Com um ou dois séculos de avanço sobre a massa de seus contemporâneos, eles não podem senão fracassar e quebrar-se contra a rotina refratária.
Assim, na Idade Média, preocupavam-se com o futuro do criminoso. Pensavam em sua alma, e para a levá-la ao arrependimento, apavoravam-na com os castigos do inferno, as chamas eternas que, por um arrastamento culposo, lhe infligiria um Deus infinitamente justo e infinitamente bom!
Não podendo elevar-se à altura de Deus, os homens, para se engrandecer, o reduziam às suas mesquinhas proporções! Inquietavam-se com o futuro do criminoso; pensavam em sua alma, não por ela própria, mas em razão de uma nova transformação do egoísmo, que consistia em pôr a consciência em repouso, reconciliando o pecador com o seu Deus.
Pouco a pouco, no coração e no pensamento de um pequeno número, a iniquidade de semelhante sistema pareceu evidente. Eminentes espíritos tentaram modificações prematuras, mas que, nada obstante, deram frutos, estabelecendo precedentes sobre os quais se baseia a transformação que hoje se realiza em todas as coisas.
Sem dúvida, ainda por muito tempo a lei será repressiva e castigará os culpados. Ainda não chegamos ao momento em que só a consciência da falta será o mais cruel castigo daquele que a cometeu. Mas, como vedes todos os dias, as penas se abrandam; tem-se em vista a moralização do ser; criam-se instituições para preparar a sua renovação moral; torna-se o seu abatimento útil a ele próprio e à Sociedade. O criminoso não será mais a fera a ser expurgada do mundo a qualquer preço. Será a criança extraviada na qual deve ser corrigido o raciocínio falseado pelas más paixões e pela influência do meio perverso!
Ah! O magistrado e o juiz não são os únicos responsáveis e os únicos a agirem neste mister. Todo homem de coração, príncipe, senador, jornalista, romancista, legislador, professor e artesão, todos devem pôr mãos à obra e trazer o seu óbolo à regeneração da Humanidade.
A pena de morte, vestígio infamante da crueldade antiga, desaparecerá pela força das coisas. A repressão, necessária no estado atual, abrandar-se-á dia a dia; e, em algumas gerações, a única condenação, a colocação fora da lei de um ser inteligente será o último degrau da infâmia, até que, de transformação em transformação, a consciência de cada um fique como único juiz e carrasco do criminoso.
E a quem deveremos todo esse trabalho? Ao Espiritismo, que desde o começo do mundo age por suas revelações sucessivas, como Mosaísmo, Cristianismo e Espiritismo propriamente dito! Por toda parte, em cada período, sua influência benfazeja salta aos os olhos, e ainda há seres bastante cegos para não reconhecê-lo, bastante interessados para derrubá-lo e negar a sua existência. Ah! Esses devem ser lamentados, porque lutam contra uma força invencível: contra o dedo de Deus!
BONNAMY pai. (Médium: Sr. Desliens)."

"Se o homem conhecesse o futuro..."

"Se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria do presente e não obraria com a liberdade com que o faz, porque o dominaria a ideia de que, se uma coisa tem que acontecer, inútil será ocupar-se com ela, ou então procuraria obstar a que acontecesse. Não quis Deus que assim fosse, a fim de que cada um concorra para a realização das coisas, até daquelas a que desejaria opor-se."

"O Livro dos Espíritos", Allan Kardec

sábado, 24 de outubro de 2020

CORAGEM

CORAGEM

A orientação que se segue, foi dada a uma família por um dos seus Espíritos Protetores. Não obstante é válida para todos nós lermos e relermos, principalmente em momentos em que a coragem tenta desvanecer.
"Tende confiança em Deus, que jamais abandona os que fazem o bem. Aquilo que julgais um mal, com frequência só o é em relação às vossas concepções. Também, às vezes, o mal real vem apenas de um desânimo ocasionado por uma dificuldade, que a calma de espírito e a reflexão teriam evitado. Assim, refleti sempre e, como já vos disse, reportai tudo a Deus. Quando experimentais qualquer pesar, longe de vos abandonardes à tristeza, ao contrário, resisti e fazei todo esforço para triunfar, pensando que nada se obtém sem trabalho, e que muitas vezes o sucesso é acompanhado por dificuldades. Invocai o auxílio dos Espíritos benevolentes. Eles não podem, como vos ensinam, fazer boas obras em vosso lugar, nem obter algo de Deus para vós, pois é preciso que cada um conquiste, por si mesmo, a perfeição a que todos estamos destinados, mas podem inspirar-vos o bem, sugerir-vos conduta conveniente e ajudar-vos com seu concurso. Eles não se manifestam ostensivamente, mas no recolhimento. Escutai a voz da vossa consciência, lembrando-vos de meus conselhos precedentes. Confiança em Deus, calma e coragem."
"Revista Espírita", Allan Kardec - Janeiro de 1860

"Não é porque uma reunião se intitula grupo..."

"Não é porque uma reunião se intitula grupo, círculo ou sociedade espírita que, necessariamente deve ter a nossa simpatia; a etiqueta jamais foi garantia absoluta da qualidade da mercadoria. Mas, segundo a máxima: "Conhece-se a árvore pelo seu fruto", nós a apreciamos em razão dos sentimentos que a animam, do móvel que a dirige e a julgamos por suas obras."

"Revista Espírita", Allan Kardec - Maio de 1864

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

A VERDADE

A VERDADE

Allan Kardec aborda este tema, em artigo de Pascal, inserido na "Revista Espírita", de Maio de 1865 e que aqui transcrevemos:
"A verdade, meu amigo, é uma dessas abstrações para as quais tende o espírito humano incessantemente, sem jamais poder atingi-la. É preciso que ele tenda para ela, pois é uma das condições do progresso, mas sua natureza imperfeita, e é só por isso que ela é imperfeita, não poderia alcançá-la. Seguindo a direção que segue a verdade em sua marcha ascendente, o espírito humano está na rota providencial, mas não lhe é dado ver o seu termo.
Compreender-me-ás melhor quando souberes que a verdade é, como o tempo, dividida em duas partes, pelo momento inapreciável que se chama o presente, a saber: o passado e o futuro. Assim, também há duas verdades, a verdade relativa e a verdade absoluta. A verdade relativa é o que é; a verdade absoluta é o que deveria ser. Ora, como o que deveria ser sobe por graus até a perfeição absoluta, que é Deus, segue-se que, para os seres criados e seguindo a rota ascensional do progresso, só há verdades relativas. Mas por que uma verdade relativa não é imutável, não é menos sagrada para o ser criado.
Vossas leis, vossos costumes, vossas instituições são essencialmente perfectíveis, e por isto mesmo imperfeitas, mas suas imperfeições não vos libertam do respeito que lhes deveis. Não é permitido adiantar-se ao seu tempo e fazer leis fora das leis sociais. A Humanidade é um ser coletivo, que deve marchar, senão em seu conjunto, ao menos por grupos, para o progresso do futuro. Aquele que se destaca da sociedade humana para avançar como criança perdida, para verdades novas, sofre sempre em vossa Terra a pena devida à sua impaciência. Deixai aos iniciadores, inspirados pelo Espírito de Verdade, o cuidado de proclamar as leis do futuro, submetendo-vos às do presente. Deixai a Deus, que mede vosso progresso pelos esforços que houverdes feito para vos tornardes melhores, o cuidado de escolher o momento que ele julga útil para uma nova transição, mas não vos subtraiais nunca a uma lei senão quando ela for derrogada.
Porque o Espiritismo foi revelado entre vós, não creiais num cataclismo das instituições sociais; até este dia ele realizou uma obra subterrânea e inconsciente para aqueles que eram seus instrumentos. Hoje, que ele aflora ao solo e chega à luz, a marcha do progresso não deve deixar de ter uma lenta regularidade. Desconfiai dos Espíritos impacientes, que vos impelem para as vias perigosas do desconhecido. A eternidade que vos é prometida deve levar-vos a ter piedade das ambições tão efêmeras da vida. Sede reservados a ponto de frequentemente suspeitardes da voz dos Espíritos que se manifestam.
Lembrai-vos disto: O Espírito humano se move e se agita sob a influência de três causas, que são: a reflexão, a inspiração e a revelação. A reflexão é a riqueza de vossas lembranças, que agitais voluntariamente. Nela o homem encontra o que lhe é rigorosamente útil para satisfazer às necessidades de uma posição estacionária. A inspiração é a influência dos Espíritos extraterrenos, que se mistura mais ou menos às vossas próprias reflexões, para vos impelir ao progresso, é a ingerência do melhor na insuficiência da passagem; é uma força nova, que se junta a uma força adquirida, para vos levar mais longe que o presente; é a prova irrefutável de uma causa oculta que vos impele para a frente, e sem a qual ficaríeis estacionários, porque é regra física e moral que o efeito não poderia ser maior que a sua causa, e quando isto acontece, como no progresso social, é que uma causa ignorada, não percebida, juntou-se à causa primeira de vosso impulso. A revelação é a mais elevada das forças que agitam o espírito humano, porque ela vem de Deus e só se manifesta por sua vontade expressa; ela é rara, por vezes mesmo inapreciável, algumas vezes evidente para aquele que a experimenta a ponto de sentir-se involuntariamente tomado de santo respeito. Repito, ela é rara e ordinariamente dada como uma recompensa à fé sincera, ao coração devotado, mas não tomeis como revelação tudo quanto vos pode ser dado como tal. O homem exibe a amizade dos grandes; os Espíritos exibem uma permissão especial de Deus, a qual muitas vezes lhes falta. Algumas vezes eles fazem promessas que Deus não ratifica, porque só ele sabe o que é e o que não é preciso.
Eis, meu amigo, tudo quanto te posso dizer sobre a verdade. Humilha-te ante o grande Ser, pelo qual tudo vive e se move na infinidade de mundos que seu poder rege. Pensa que se nele se acha toda a sabedoria, toda a justiça e todo o poder, nele também se acha toda a verdade."
PASCAL

"Não só o Espiritismo é uma consolação..."

"Não só o Espiritismo é uma consolação, mas ainda desenvolve a inteligência, destrói todo pensamento de egoísmo, de orgulho e de avareza."

"Revista Espírita", Allan Kardec - Maio de 1864

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

LÁGRIMAS PRECIOSAS

LÁGRIMAS PRECIOSAS

Na "Revista Espírita", de Maio de 1862, Allan Kardec insere este artigo em que nos fala de duas lágrimas que se revelaram preciosas.
Aqui fica, para nossa reflexão:
"As duas lágrimas"
(SOCIEDADE ESPÍRITA DE LYON - GRUPO VILLON)
(MÉDIUM: SRA. BOUILLAND)
"Um Espírito era forçado a deixar a Terra, que não teria podido visitar, porque vinha de uma região muito inferior. Entretanto, ele havia pedido para sofrer uma prova, e Deus não lha tinha recusado. Ora! A esperança que tinha alimentado ao entrar no mundo terreno não se havia realizado e sua natureza bruta, passando a dominar cada um de seus dias, havia sido marcada por faltas sempre maiores.
Durante muito tempo, todos os Espíritos guias dos homens tinham tentado desviá-lo do caminho que trilhava, mas, cansados de lutar, haviam abandonado esse infeliz a si mesmo, quase temerosos de seu contato.
No entanto, tudo tem um fim. Mais cedo ou mais tarde o crime se descobre e a justiça repressiva dos homens impõe ao culpado a pena de talião. Dessa vez não foi cabeça por cabeça. Foi cabeça por cem. Ontem esse Espírito, depois ter ficado meio século na Terra, ia voltar ao espaço para ser julgado pelo Supremo Juiz, que pesa as faltas muito mais inexoravelmente do que o faríeis vós mesmos.
Em vão os Espíritos guardiães tinham voltado com a condenação e tentado introduzir o arrependimento nessa alma rebelde. Em vão dele tinham aproximado os Espíritos de toda a família. Cada um desejaria arrancar-lhe um suspiro de pesar, ou ao menos um sinal. Aproximava-se o momento fatal e nada emocionava essa alma de bronze e, por assim dizer, bestial.
Entretanto um único pesar, antes de deixar a vida, poderia ter dulcificado os sofrimentos do infeliz, condenado pelos homens a perder a vida, e por Deus aos incessantes remorsos, a horrível tortura semelhante ao abutre a roer o coração que se restaura sem cessar.
Enquanto os Espíritos trabalhavam sem descanso para nele fazer renascer ao menos o pensamento de arrependimento, um outro Espírito, Espírito encantador, dotado de uma sensibilidade e de uma ternura sublimes, voava em redor de uma cabeça muito querida, cabeça ainda viva, e lhe dizia: “Pensa nesse infeliz que vai morrer e fala-me dele”.
Quando a caridade é simpática; quando dois Espíritos se entendem como se fossem apenas um, o pensamento como que se carrega de eletricidade. Logo em seguida o Espírito encarnado disse a esse mensageiro do amor: “Meu filho, procura inspirar um pouco de remorso a esse miserável que vai morrer. Vai e consola-o”.
Pensando nisso, ao compreender tudo o que esse infeliz criminoso ia ter de suportar em sofrimentos para sua expiação, uma lágrima furtiva escapou-se dos olhos daquele que só, nessa hora matinal, levantava-se pensando naquele ser impuro que dentro de instantes deveria prestar contas.
O suave mensageiro recolheu essa lágrima benfazeja na concha da mão minúscula e, em voo rápido, a levou ao tabernáculo onde se guardam essas relíquias, e assim fez a sua prece.
─ Senhor, um ímpio vai morrer. Vós o condenastes, mas dissestes: “Eu perdoo quando há remorso e concedo indulgência quando há arrependimento”. Eis uma lágrima de verdadeira caridade, que extravasou do coração para os olhos do ser que mais amo na Terra. Eu vos trago esta lágrima. É o resgate do sofrimento. Dai-me o poder de enternecer o coração de rocha do Espírito que vai expiar os seus crimes.
─ Vai, respondeu-lhe o Mestre. Vai, meu filho. Essa lágrima bendita pode pagar muitos resgates.
A suave criança partiu e chegou junto do criminoso no momento do suplício. O que ela lhe disse só Deus o sabe; o que se passou naquele ser transviado ninguém compreendeu, mas, abrindo os olhos à luz, ele viu desdobrar-se à sua frente um passado horroroso. Ele, a quem o instrumento fatal não abalava, a quem a condenação à morte tinha feito sorrir, ergueu os olhos e uma grossa lágrima causticante como o chumbo fundido caiu de seus olhos.
A essa prova muda que lhe testemunhava que sua prece tinha sido ouvida, o anjo da caridade estendeu sobre o infeliz as suas brancas asas, recolheu aquela lágrima e parecia dizer: “Infeliz! Sofrerás menos. Eu levo a tua redenção!”
Que contraste pode inspirar a caridade do Criador! O mais impuro dos seres, nos últimos degraus da escada, e o anjo mais casto prestes a entrar no mundo dos eleitos, a um sinal vem estender a sua proteção visível sobre esse pária da Sociedade.
Do alto de seu poderoso tribunal, Deus abençoava essa cena tocante e nós todos dizíamos, rodeando a criança: “Vai receber a tua recompensa.”
A suave mensageira subiu aos Céus, com a lágrima escaldante nas mãos e pôde dizer:
─ Senhor, ele chorou. Eis aqui a prova!
─ Está bem, respondeu o Senhor. Conservai essa primeira gota de orvalho do coração endurecido. Que essa lágrima fecunda vá regar esse Espírito ressequido pelo mal. Mas guardai sobretudo a primeira lágrima que essa criança me trouxe, e que essa gota d’água se torne diamante puro, porque ela é a pérola sem mancha da verdadeira caridade. Contai esse exemplo aos povos e dizei-lhes, solidários uns com os outros: “Olhai e vede! Eis aqui uma lágrima de amor pela Humanidade, e uma lágrima de remorso obtida pela prece. Estas duas lágrimas serão as pedras mais preciosas do vasto escrínio da caridade”.
CÁRITA