sexta-feira, 31 de julho de 2020

É possível conhecer o futuro?




É POSSÍVEL CONHECER O FUTURO?

“Suponhamos um homem colocado no cume de uma alta montanha, a observar a vasta extensão da planície em derredor. Nessa situação, o espaço de uma légua pouca coisa será para ele, que poderá facilmente apanhar, de um golpe de vista, todos os acidentes do terreno, de um extremo a outro da estrada que lhe esteja diante dos olhos.
O viajor, que pela primeira vez percorra essa estrada, sabe que, caminhando, chegará ao fim dela. Constitui isso uma simples previsão da consequência que terá a sua marcha.
Entretanto, os acidentes do terreno, as subidas e descidas, os cursos de água que terá de transpor, os bosques que haja de atravessar, os precipícios em que poderá cair, as casas hospitaleiras onde lhe será possível repousar, os ladrões que o espreitem para roubá-lo, tudo isso independe da sua pessoa; é para ele o desconhecido, o futuro, porque a sua vista não vai além da pequena área que o cerca.
Quanto à duração, mede-a pelo tempo que gasta em perlustrar o caminho. Tirai-lhe os pontos de referência e a duração desaparecerá.
Para o homem que está em cima da montanha e que o acompanha com o olhar, tudo aquilo está presente. Suponhamos que esse homem desce do seu ponto de observação e, indo ao encontro do viajante, diz-lhe: “Em tal momento, encontrarás tal coisa, serás atacado e socorrido.” Estará predizendo o futuro, mas, futuro para o viajante, não para ele, autor da previsão, pois que, para ele, esse futuro é presente.”
“A Génese”, Allan Kardec – Capítulo XVI , «Teoria da Presciência», Item 2

Muitos são aqueles que surgem alegando ter tido acesso, através da mediunidade, a datas em que acontecerão circunstâncias, cataclismos, intempéries, entre outros. No entanto, sabemos que os Espíritos mais evoluídos, nada predizem, muito menos datas fixas, até para não impedirem a ação do nosso livre-arbítrio.

“Atribui-se comumente aos profetas o dom de adivinhar o futuro, de sorte que as palavras profecia e predição tornaram-se sinónimas.”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec – Capítulo XXI “Haverá Falsos Cristos e Falsos Profetas”

Se atentarmos, nesta frase, observamos Allan Kardec a referir que "é comum atribuir-se", ao invés de dizer que "devemos acreditar em tudo", de forma inequívoca.

“624. Qual o caráter do verdadeiro profeta?”
“- O verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podeis reconhecê-lo pelas suas palavras e pelos seus atos.
Impossível é que Deus se sirva da boca do mentiroso para ensinar a verdade.”
“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec

Só Deus pode abarcar o conhecimento de tudo.
Quanto aos verdadeiros profetas, eles deixam um rasto de boas sementes. São como um despertador para as nossas vidas.
São aqueles Espíritos que podemos conhecer directamente, ou não, mas que admiramos pela sua retidão e cumprimento da Lei de Deus.
Quanto a nós, todos somos falíveis. De outra forma, estaríamos já num outro patamar evolutivo.

“No sentido evangélico, o vocábulo profeta tem mais extensa significação. Diz-se de todo enviado de Deus com a missão de instruir os homens e de revelar-lhes as coisas ocultas e os mistérios da vida espiritual.”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec – Capítulo XXI “Haverá Falsos Cristos e Falsos Profetas”

Têm, então, a missão de instruir e não de adivinhar.
Mas que revelações poderão fazer aos homens?
Podem revelar-lhes aquilo que não conhecem, nomeadamente que somos Espíritos, em experiência terrena, que já tivemos outras existências e que temos uma vida que durará para sempre.

No que concerne aos mistérios da vida, o trecho refere-se ao dar a conhecer a realidade, para que os homens tenham a certeza que o que está a acontecer (na encarnação), não é a sua vida mas é, antes sim, uma parte dela.
Desta forma, os verdadeiros profetas, dão, ao homem, a compreensão para tudo aquilo que ele não consegue encontrar causas na vida presente mas também dão esperança, dizendo que tudo aquilo que agora construir, trará os seus frutos.

"Pode, pois, um homem ser profeta, sem fazer predições.”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec – Capítulo XXI “Haverá Falsos Cristos e Falsos Profetas”

Ou seja, sem estar a fazer advinhação. Isto significa, transmitir a verdade sem fazer advinhações do futuro, pois este depende de cada um de nós e não está consumado. Existem, eventualmente, possibilidades de algo acontecer mas, em grande parte, está dependente das nossas resoluções e, por isso, é uma incógnita, para terceiros.

“Aquela era a ideia dos judeus, ao tempo de Jesus.”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec – Capítulo XXI “Haverá Falsos Cristos e Falsos Profetas”

Jesus, já na sua época, transmitiu esta ideia mas, por outro lado, encontrou a incompreensão dos homens.

“869. Com que fim o futuro se conserva oculto ao homem?”
“- Se o homem conhecesse o futuro, negligenciaria o presente e não trabalharia com a liberdade com que o faz, porque o dominaria a ideia de que, se uma coisa tem que acontecer, inútil será ocupar-se com ela, ou então procuraria obstar a que acontecesse. Não quis Deus que assim fosse, a fim de que cada um concorra para a realização das coisas, até daquelas a que desejaria opor-se. Assim é que tu mesmo preparas muitas vezes os acontecimentos que hão de sobrevir no curso da tua existência.”
“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec

Temos, assim, liberdade de ação, dentro das possibilidades que nos são apresentadas.

“Quando levaram Jesus à presença do sumo sacerdote Caifás, os escribas e os anciães, reunidos, cuspiram-lhe no rosto, deram-lhe socos e bofetadas, dizendo: “Cristo, profetiza para nós e diz quem foi que te bateu.” Entretanto, deu-se o caso de haver profetas que tiveram a previsão do futuro, quer por intuição, quer por providencial revelação, a fim de transmitirem avisos aos homens.”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec – Capítulo XXI “Haverá Falsos Cristos e Falsos Profetas”

Os Espíritos podem em circunstâncias pontuais, fazer avisos concretos, contudo eles não nos apontam caminhos objectivamente.
Podem convidar-nos a refletir, antes de agir, dando-nos, assim, espaço para não nos precipitarmos no agir ou no não agir (o não agir, por vezes, também tem consequências).

“Tendo-se realizado os acontecimentos preditos, o dom de predizer o futuro foi considerado como um dos atributos da qualidade de profeta.”
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec – Capítulo XXI “Haverá Falsos Cristos e Falsos Profetas”

Gerou-se o equívoco do qual o homem abusou.
Como em vários aspectos da vida, o homem aproveitou-se desta situação, atribuindo aos profetas algo que eles não têm que é a possibilidade de advinhar o futuro.
O futuro depende de nós, seja individual ou coletivamente pois depende dos procedimentos de cada um.
Não é possível prever um desfecho de uma situação uma vez que, a título de exemplo, a nossa conduta pode alterá-la.

“O nosso globo, como tudo o que existe, está submetido à lei do progresso. Ele progride, fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem e, moralmente, pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Ambos esses
progressos se realizam paralelamente, porquanto o melhoramento da habitação guarda relação com o do habitante.”
“A Génese”, Allan Kardec – Capítulo XXIII “São chegados os tempos”

Por isso é necessário prudência com aqueles que dizem que vai acontecer algo em determinado momento, uma vez que tudo isso está também dependente do livre-arbítrio.

Ora, aqueles que se permitem ser profetas mas das trevas, predizem datas, momentos concretos de cataclismos mas qual de nós poderia tomar a liberdade de adoptar esta postura se até os Espíritos desencarnados estão condicionados às nossas ações e determinações?
Uma decisão nossa compromete os planos deles.
Acaso existem modificações profundas sem abalos, igualmente, intensos?

“Esses movimentos, subordinados, quanto às particularidades, ao livre-arbítrio dos homens, são, de certo modo, fatais em seu conjunto, porque estão sujeitos a leis, como os que se verificam na germinação, no crescimento e na maturidade das plantas. Por isso é que o movimento progressivo se efetua, às vezes, de modo parcial, isto é, limitado a uma raça ou a uma nação, doutras vezes, de modo geral.”
“A Génese”, Allan Kardec – Capítulo XXIII “São chegados os tempos”

Caminhamos de tal forma alheados de nós, à nossa volta e do objectivo que nos trouxe à encarnação que canalizamos as energias para a descoberta do futuro e do passado remoto.
Para além da inutilidade que esse comportamento representa, esquecemo-nos, igualmente, do momento presente, que está a ocorrer e que construirá o nosso futuro.

“Quando, por conseguinte, a humanidade está madura para subir um degrau, pode dizer-se que são chegados os tempos marcados por Deus, como se pode dizer também que, em tal estação, eles chegam para a maturação dos frutos e sua colheita.”
“A Génese”, Allan Kardec – Capítulo XXIII “São chegados os tempos”

“Deus, pois, vela incessantemente pela execução de suas leis e os Espíritos que povoam o espaço são seus ministros, encarregados de atender aos pormenores, dentro de atribuições que correspondem ao grau de adiantamento que tenham alcançado.”

"Ele envia despertadores, para que os homens acordem para a sua verdadeira condição de Espíritos Imortais.
Esses despertadores que trazem ideias mais ampliadas, renovam-se de tempos a tempos e de acordo com o grau de desenvolvimento dos homens de cada época.
É, pois, da luta das ideias que surgirão os graves acontecimentos preditos e não de cataclismos ou catástrofes puramente materiais.
Hoje, não são mais as entranhas do planeta que se agitam: são as da humanidade.”
“A Génese”, Allan Kardec – Capítulo XXIII “São chegados os tempos”

São as revoluções morais!
Estamos a contribuir para que estas revoluções morais encontrem espaço? O que estamos a fazer com o Espiritismo, por exemplo?
Que mudanças está ele a operar em nós?
Não esqueçamos a responsabilidade que temos com aqueles que sabem que já estamos a abraçar a Doutrina Espírita.
Eles observam-nos e conhecem o Espiritismo através dos nossos actos.

“Tornada adulta, a humanidade tem novas necessidades, aspirações mais vastas e mais elevadas; compreende o vazio com que foi embalada, a insuficiência de suas instituições para dar-lhe felicidade; já não encontra, no estado das coisas, as satisfações legítimas a que se sente com direito. Despoja-se, em consequência, das faixas infantis e lança-se, impelida por irresistível força, para as margens desconhecidas, em busca de novos horizontes menos limitados. É a um desses períodos de transformação, ou, se o preferirem, de crescimento moral, que ora chega a humanidade.”
“A Génese”, Allan Kardec – Capítulo XXIII “São chegados os tempos”

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