O DESCANSO ETERNO
Referindo-se a pessoas que desencarnaram, muitos afirmam que já está "no descanso eterno". De que se trata, de facto?
Na obra "Revista Espírita", de Allan Kardec, encontramos uma dissertação espírita, em torno dessa temática.
"Quando deixei meu envoltório terreno, fizeram vários discursos em meu túmulo, e todos estavam impregnados da mesma ideia. Sonnez, meu amigo, dizia um, ides gozar do repouso eterno. Alma, dizia o padre, repousa na contemplação divina. Amigo, repetia o terceiro, dorme em paz após uma vida bem vivida. Enfim, era o repouso eterno contínuo, que ressaltava do fundo de tantos adeuses tocantes.
O repouso eterno! Que entendiam por esta expressão e pelas mesmas palavras continuamente repetidas, cada vez que um homem desaparecia da Terra e ia para o desconhecido?
Ah! meus amigos, dizeis que repousamos. Que erro estranho! Compreendeis o repouso à vossa maneira. Olhai em torno de vós; existe o repouso? Neste momento as árvores vão se despojar de seus envoltórios encantadores; tudo geme nesta estação; a Natureza parece preparar-se para a morte, contudo, se procurarmos, acharemos a vida em preparação sob essa morte aparente. Tudo se depura nesse grande laboratório terrestre: a seiva e a flor, o inseto e o fruto, tudo o que deve adornar e fecundar.
Esta montanha, que parece ter uma imobilidade eterna, não repousa. As infinitas moléculas que a compõem realizam um trabalho enorme. Elas tendem, umas a se agregar, outras a se separar, e essa lenta transformação causa espanto a princípio e depois admiração ao pesquisador que acha em tudo instintos diversos e mistérios a explorar. E se a Terra assim se agita em suas entranhas, é que esse grande cadinho elabora e prepara o ar que respirais, os gazes que devem sustentar a Natureza inteira. É que ela imita os milhões de planetas que percebeis no espaço, e cujos movimentos diários e trabalho contínuo obedecem à vontade soberana. Sua evolução é matemática e se eles encerram outros elementos além dos que vos fazem agir, vamos! Acreditai! Esses elementos trabalham para a sua depuração, para a sua perfeição.
Sim, para a sua perfeição, porque essa é a palavra eterna. A perfeição é o objetivo, e para atingi-lo, átomos, moléculas, seiva, minério, árvores, animais, homens, planetas e Espíritos se empenham nesse movimento geral, que é admirável por sua diversidade, pois é harmonia. Todas as tendências vão ao mesmo fim, e esse fim é Deus, centro de toda atração.
Depois da minha partida da Terra, minha missão não está realizada; busco e trabalho todos os dias; meu pensamento aumentado abarca melhor o poder dirigente; sinto-me melhor fazendo o bem e, como eu, legiões inumeráveis de Espíritos preparam o futuro. Não acrediteis no repouso eterno! Os que pronunciam essas palavras não compreendem o seu vazio. Vós todos que me ouvis, podeis matar o pensamento, forçá-lo ao repouso? Oh! não. O vagabundo procura e procura sempre e não desagrada aos amáveis e úteis charlatães que negam o Espírito e o seu poder. O Espírito existe, nós o provamos e o provaremos melhor quando chegar a hora. Nós lhes ensinaremos, a esses apóstolos da incredulidade, que o homem não é o nada, um agregado de átomos reunidos pelo acaso e pelo acaso destruídos. Nós lhes mostraremos o homem radiante por sua vontade e seu livre-arbítrio, senhor de seu destino, elaborando na geena terrestre o poder da ação necessária a outras vidas, a outras provas."
SONNEZ
"Revista Espírita", Allan Kardec - Novembro de 1865
Sem comentários:
Enviar um comentário