segunda-feira, 8 de março de 2021

COMUNICAÇÃO COM OS SERES QUE NOS SÃO CAROS


COMUNICAÇÃO COM OS SERES QUE NOS SÃO CAROS

Sob este título, Allan Kardec inseriu um artigo na "Revista Espírita", referente a 1866:
"Por que todas as mães que choram os filhos e ficariam felizes se se comunicassem com eles muitas vezes não o podem? Por que a visão deles lhes é recusada, mesmo em sonhos, a despeito de seu desejo e de suas preces ardentes?
Além da falta de aptidão especial que, como se sabe, não é dada a todos, há por vezes outros motivos cuja utilidade a sabedoria da Providência aprecia melhor do que nós. Essas comunicações poderiam ter inconvenientes para naturezas muito impressionáveis; certas pessoas poderiam delas abusar e a elas se entregar com um excesso prejudicial à saúde. A dor, em semelhantes casos, sem dúvida é natural e legítima; mas algumas vezes é levada a um ponto desarrazoado. Nas pessoas de caráter fraco, muitas vezes essas comunicações reavivam a dor em vez de acalmá-la, por isso nem sempre lhes é permitido recebê-las, mesmo por outros médiuns, até que se tenham tornado mais calmas e bastante senhoras de si para dominar a emoção. A falta de resignação, em casos tais, é quase sempre uma causa de retardamento.
Depois, é preciso dizer que a impossibilidade de nos comunicarmos com os Espíritos que mais amamos, quando podemos com outros, é muitas vezes uma prova para a fé e a perseverança e, em certos casos, uma punição. Aquele a quem esse favor é recusado deve, pois, dizer-se que sem dúvida a mereceu. Cabe-lhe procurar a causa em si mesmo, e não atribuí-la à indiferença ou ao esquecimento do ser lamentado.
Enfim, há temperamentos que, não obstante a força moral, poderiam sofrer pelo exercício da mediunidade com certos Espíritos, mesmo simpáticos, conforme as circunstâncias.
Admiremos em tudo a solicitude da Providência, que vela pelos menores detalhes, e saibamos submeter-nos à sua vontade sem murmúrio, porque ela sabe melhor do que nós o que nos é útil ou prejudicial. Ela é para nós como um bom pai, que nem sempre dá a seu filho o que ele deseja.
As mesmas razões ocorrem no que concerne aos sonhos. Os sonhos são a lembrança do que a alma viu em estado de desprendimento durante o sono. Ora, essa lembrança pode ser interdita. Mas aquilo de que a gente não se lembra não está, por isto, perdido para a alma. As sensações experimentadas durante as excursões que ela faz no mundo invisível, deixam, ao despertar, impressões vagas, e a gente se lembra de pensamentos e ideias cuja origem muitas vezes não suspeita. Portanto, podemos ter visto, durante o sono, os seres aos quais temos afeição, termo-nos entretido com eles, mas não guardamos a lembrança. Então dizemos que não sonhamos.
Mas se o ser lamentado não pode manifestar-se de uma maneira extensiva qualquer, nem por isso estará menos junto aos que o atraem por seu pensamento simpático. Ele os vê, ouve as suas palavras e muitas vezes adivinha a sua presença por uma espécie de intuição, uma sensação íntima, algumas vezes mesmo por certas impressões físicas. A certeza de que ele não está no nada; de que ele não está perdido nas profundezas do espaço nem nos abismos do inferno; de que ele é mais feliz, agora isento dos sofrimentos corporais e das tribulações da vida; de que o verão, após uma separação momentânea, mais belo, mais resplendente, sob seu envoltório etéreo imperecível, e não sob a pesada carapaça carnal, eis a imensa consolação que recusam aqueles que creem que tudo acaba com a vida; eis o que dá o Espiritismo.
Em verdade não se compreende o encanto que se pode encontrar em comprazer-se na ideia do nada para si mesmo e para os seus, e na obstinação de certas pessoas em repelir até a esperança de que pode ser diferente, e os meios de adquirir a sua prova. Diga-se a um doente agonizante: “Amanhã estareis curado; vivereis ainda muitos anos, alegre, saudável”, e ele aceitará o augúrio com alegria. O pensamento da vida espiritual indefinida, isenta das enfermidades e preocupações da vida não é muito mais satisfatório?
Pois bem! O Espiritismo dela não dá apenas a esperança, mas a certeza. É por isto que os espíritas consideram a morte de maneira completamente diferente dos incrédulos."
"Revista Espírita", Allan Kardec 1866

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