sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

RIVALIDADES ENTRE AS SOCIEDADES ESPÍRITAS

RIVALIDADES ENTRE AS SOCIEDADES ESPÍRITAS

Allan Kardec aborda este tema, na obra "O Livro dos Médiuns":
"Rivalidades entre as Sociedades"
"348. Os grupos que se ocupam exclusivamente com as manifestações inteligentes e os que se entregam ao estudo das manifestações físicas têm cada um a sua missão. Nem uns nem outros se achariam possuídos do verdadeiro espírito do Espiritismo, desde que não se olhassem com bons olhos; e aquele que atirasse pedras em outro provaria, por esse simples fato, a má influência que o domina. Todos devem concorrer, ainda que por vias diferentes, para o objetivo comum, que é a pesquisa e a propaganda da verdade. Os antagonismos, que não são mais do que efeito de orgulho superexcitado, fornecendo armas aos detratores, só poderão prejudicar a causa, que uns e outros pretendem defender.
349. Estas últimas reflexões se aplicam igualmente a todos os grupos que porventura divirjam sobre alguns pontos da Doutrina. Conforme dissemos, no capítulo Das contradições e das mistificações, essas divergências, as mais das vezes, apenas versam sobre acessórios, não raro mesmo sobre simples palavras. Fora, portanto, pueril constituírem bando à parte alguns, por não pensarem todos do mesmo modo. Pior ainda do que isso seria o se tornarem ciosos uns dos outros os diferentes grupos ou associações da mesma cidade. Compreende-se o ciúme entre pessoas que fazem concorrência umas às outras e podem ocasionar recíprocos prejuízos materiais. Não havendo, porém, especulação, o ciúme só traduz mesquinha rivalidade de amor-próprio.
Como, em definitiva, não há sociedade que possa reunir em seu seio todos os adeptos, as que se achem animadas do desejo sincero de propagar a verdade, que se proponham a um fim unicamente moral, devem assistir com prazer à multiplicação dos grupos e, se alguma concorrência haja de entre eles existir, outra não deverá ser senão a de fazer cada um maior soma de bem. As que pretendam estar exclusivamente com a verdade terão que o provar, tomando por divisa: Amor e Caridade, que é a de todo verdadeiro espírita. Quererão prevalecer-se da superioridade dos Espíritos que as assistam? Provem-no, pela superioridade dos ensinos que recebam e pela aplicação que façam deles a si mesmas. Esse o critério infalível para se distinguirem as que estejam no melhor caminho.
Alguns Espíritos, mais presunçosos do que lógicos, tentam por vezes impor sistemas singulares e impraticáveis, à sombra de nomes veneráveis com que se adornam. O bom senso acaba sempre por fazer justiça a essas utopias, mas, enquanto isso não se dá, podem elas semear a dúvida e a incerteza entre os adeptos. Daí, não raro, uma causa de dissentimentos passageiros. Além dos meios que temos indicado de as apreciar, outro critério há, que lhes dá a medida exata do valor: o número dos partidários que tais sistemas recrutam. A razão diz que, de todos os sistemas, aquele que encontra maior acolhimento nas massas, deve estar mais próximo da verdade do que os que são repelidos pela maioria e veem abrir claros nas suas fileiras. Tende, pois, como certo que, quando os Espíritos se negam a discutir seus próprios ensinos, é que bem reconhecem a fraqueza destes.
350. Se o Espiritismo, conforme foi anunciado, tem que determinar a transformação da humanidade, claro é que esse efeito ele só poderá produzir melhorando as massas, o que se verificará gradualmente, pouco a pouco, em consequência do aperfeiçoamento dos indivíduos. Que importa crer na existência dos Espíritos, se essa crença não faz que aquele que a tem se torne melhor, mais benigno e indulgente para com os seus semelhantes, mais humilde e paciente na adversidade? De que serve ao avarento ser espírita, se continua avarento; ao orgulhoso, se se conserva cheio de si; ao invejoso, se permanece dominado pela inveja? Assim, poderiam todos os homens acreditar nas manifestações dos Espíritos e a humanidade ficar estacionária. Tais, porém, não são os desígnios de Deus. Para o objetivo providencial, portanto, é que devem tender todas as Sociedades espíritas sérias, grupando todos os que se achem animados dos mesmos sentimentos. Então, haverá união entre elas, simpatia, fraternidade, em vez de vão e pueril antagonismo, nascido do amor-próprio, mais de palavras do que de fatos; então, elas serão fortes e poderosas, porque assentarão em inabalável alicerce: o bem para todos; então, serão respeitadas e imporão silêncio à zombaria tola, porque falarão em nome da moral evangélica, que todos respeitam.
Essa a estrada pela qual temos procurado com esforço fazer que o Espiritismo enverede. A bandeira que desfraldamos bem alto é a do Espiritismo cristão e humanitário, em torno da qual já temos a ventura de ver, em todas as partes do globo, congregados tantos homens, por compreenderem que aí é que está a âncora de salvação, a salvaguarda da ordem pública, o sinal de uma era nova para a humanidade.
Convidamos, pois, todas as Sociedades espíritas a colaborar nessa grande obra. Que de um extremo ao outro do mundo elas se estendam fraternalmente as mãos e eis que terão colhido o mal em inextricáveis malhas."

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