MEDIUNIDADE DE EFEITOS FÍSICOS E MEDIUNIDADE DE EFEITOS INTELIGENTES: QUAL A DIFERENÇA?
Quais são as características de cada um dos dois géneros de mediunidade?
Vejamos em "O Que é o Espiritismo", de Allan Kardec.
"34. As manifestações dos Espíritos são de duas naturezas: efeitos físicos e comunicações inteligentes.
Os primeiros são os fenômenos materiais ostensivos, tais como os movimentos, ruídos, transportes de objetos etc.; os outros consistem na troca regular de pensamentos por meio de sinais, da palavra e, principalmente, da escrita.
35. As comunicações que recebemos dos Espíritos podem ser boas ou más, justas ou falsas, profundas ou frívolas, consoante a natureza dos que se manifestam. Os que dão provas de sabedoria e erudição, são Espíritos adiantados no caminho do progresso; os que se mostram ignorantes e maus, são os ainda atrasados, mas que com o tempo hão de progredir.
Os Espíritos só podem responder sobre aquilo que sabem, segundo o seu estado de adiantamento, e ainda dentro dos limites do que lhes é permitido dizer-nos, porque há coisas que eles não devem revelar, por não ser ainda dado ao homem tudo conhecer.
36. Da diversidade de qualidades e aptidões dos Espíritos, resulta que não basta dirigirmo-nos a um Espírito qualquer para obtermos uma resposta segura a qualquer questão; porque, acerca de muitas coisas, ele não nos pode dar mais que a sua opinião pessoal, a qual pode ser justa ou errônea. Se ele é prudente, não deixará de confessar sua ignorância sobre o que não conhece; se é frívolo ou mentiroso, responderá de qualquer forma, sem se importar com a verdade; se é orgulhoso, apresentará suas ideias como verdades absolutas.
É por isso que João, o Evangelista, diz:
“Não creias em todos os Espíritos, mas examinai se eles são de Deus.”
A experiência demonstra a sabedoria desse conselho. Há imprudência e leviandade em aceitar sem exame tudo o que vem dos Espíritos. É de necessidade que bem conheçamos o caráter daqueles que estão em relação conosco. (Ver O Livro dos Médiuns, item 267.)
37. Reconhece-se a qualidade dos Espíritos por sua linguagem; a dos Espíritos verdadeiramente bons e superiores é sempre digna, nobre, lógica e isenta de contradições; nela se respira a sabedoria, a benevolência, a modéstia e a mais pura moral; ela é concisa e despida de redundâncias. Na dos Espíritos inferiores, ignorantes ou orgulhosos, o vácuo das ideias é quase sempre preenchido pela abundância de palavras.
Todo pensamento evidentemente falso, toda máxima contrária à sã moral, todo conselho ridículo, toda expressão grosseira, trivial ou simplesmente frívola, enfim, toda manifestação de malevolência, de presunção ou arrogância, são sinais incontestáveis da inferioridade dos Espíritos.
38. Os Espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes; seu horizonte moral é limitado, perspicácia restrita; eles não têm das coisas senão uma ideia muitas vezes falsa e incompleta, e, além disso, conservam-se ainda sob o império dos prejuízos terrestres, que eles tomam, às vezes, por verdades; por isso, são incapazes de resolver certas questões. E podem induzir-nos em erro, voluntária ou involuntariamente, sobre aquilo que nem eles mesmos compreendem.
39. Os Espíritos inferiores não são todos, por isso, essencialmente maus; alguns há que são apenas ignorantes e levianos; outros pilhéricos, espirituosos e divertidos, sabendo manejar a sátira fina e mordaz. Ao lado desses encontram-se, no mundo espiritual, como na Terra, todos os gêneros de perversidade e todos os graus de superioridade intelectual e moral.
40. Os Espíritos superiores não se ocupam senão de comunicações inteligentes que nos instruam; as manifestações físicas ou puramente materiais são, mais especialmente, obra dos Espíritos inferiores, vulgarmente designados sob o nome de Espíritos batedores, como, entre nós, as provas de grande força são executadas por saltimbancos, e não por sábios.
41. Devemos sempre estar calmos e concentrados, quando entrarmos em comunicação com os Espíritos; nunca se deve perder de vista que eles são as almas dos homens e que é inconveniente fazer deles passatempo ou pretexto de divertimentos. Se lhes respeitamos os despojos mortais, maior respeito ainda nos devem merecer como Espíritos.
As reuniões frívolas, sem objetivo sério, faltam a um dever; os que as compõem esquecem-se de que, de um momento para outro, podem entrar no mundo dos Espíritos, e não ficarão satisfeitos se os tratarem com pouca atenção.
42. Outro ponto igualmente essencial a considerar é que os Espíritos são livres e só se comunicam quando querem, com quem lhes convém e quando as suas ocupações lho permitem; não estão às ordens e à mercê dos caprichos de quem quer que seja; a ninguém é dado fazê-los manifestar-se quando não o queiram, nem dizer o que desejem calar; de sorte que ninguém pode afirmar que tal Espírito há de responder ao seu apelo em dado momento, ou que há de responder a tal ou tal pergunta que se lhe dirigir.
Asseverar o contrário é demonstrar ignorância dos princípios mais elementares do Espiritismo. Só o charlatanismo tem fontes infalíveis.
43. Os Espíritos são atraídos pela simpatia, semelhança de gostos, caracteres e intenção dos que desejam a sua presença.
Os Espíritos superiores não vão às reuniões fúteis, como um sábio da Terra não vai a uma assembleia de rapazes levianos. O simples bom senso nos diz que isso não pode ser de outro modo; se acaso, porém, eles aí se mostram algumas vezes, é somente com o fim de dar um conselho salutar, combater os vícios, reconduzir ao bom caminho os que dele se iam afastando; então, se não forem atendidos, retiram-se.
Forma juízo completamente errôneo aquele que crê que Espíritos sérios se prestem a responder a futilidades, a questões ociosas em que se lhes manifeste pouca afeição, falta de respeito e nenhum desejo de se instruir; e ainda menos que eles venham dar-se em espetáculo para desfastio dos curiosos. Vivos, eles não o fariam; mortos, também o não fazem.
44. A frivolidade das reuniões dá como resultado atrair os Espíritos levianos que só procuram ocasião de enganar e mistificar.
Pelo mesmo motivo que os homens graves e sérios não comparecem às assembleias de medíocre importância, os Espíritos sérios só comparecem às reuniões sérias, que têm por fim, não a curiosidade, porém, a instrução.
É nessas assembleias que os Espíritos superiores dão ensinamentos.
45. Do que precede, resulta que toda reunião espírita, para ser proveitosa, deve, como condição primacial, ser séria, em recolhimento, devendo aí proceder-se com respeito, religiosidade e dignamente, se se quer obter o concurso habitual dos bons Espíritos.
Convém não esquecer que se esses mesmos Espíritos aí se tivessem apresentado, quando encarnados, ter-se-ia com eles todas as considerações, a que depois de desencarnados têm ainda mais direito.
46. Em vão se alega a utilidade de certas experiências curiosas, frívolas e divertidas, para convencer os incrédulos; é a um resultado contrário que se chega. O incrédulo, já propenso a escarnecer das mais sagradas crenças, não pode ver uma coisa séria naquilo de que se zomba, nem pode respeitar o que lhe não é apresentado de modo respeitável; por isso, retira-se sempre com má impressão das reuniões fúteis e levianas, onde não encontra ordem, gravidade e recolhimento. O que, sobretudo, pode convencê-lo, é a prova da presença de seres cuja memória lhe é cara; é diante de suas palavras graves e solenes, de suas revelações íntimas, que o vemos comover -se e empalidecer.
Mas pelo fato mesmo de ele ter respeito, veneração e amor à pessoa cuja alma se lhe apresenta, fica chocado e escandalizado ao vê-la mostrar-se em uma assembleia irreverente, no meio de mesas que dançam e das gatimonhas dos Espíritos brincalhões; incrédulo como é, sua consciência repele essa aliança do sério com o ridículo, do religioso com o profano; por isso tacha tudo de charlatanismo e, muitas vezes, sai menos convicto do que entrou.
As reuniões dessa natureza fazem sempre mais mal que bem, porque afastam da Doutrina maior número de pessoas do que atraem; além de que, prestam-se à crítica dos detratores, que assim acham fundados motivos para zombarias.
47. Erra quem considera brinquedo as manifestações físicas; se não têm a importância do ensino filosófico, têm sua utilidade do ponto de vista dos fenômenos, pois que são o alfabeto da ciência, da qual deram a chave. Ainda que menos necessárias hoje, elas ainda concorrem para a convicção de algumas pessoas.
De nenhum modo, porém, são elas incompatíveis com a ordem e a decência que deve haver nessas reuniões experimentais; se sempre as praticassem convenientemente, convenceriam com mais facilidade e produziriam, a todos os respeitos, muito melhores resultados.
48. Certas pessoas fazem uma ideia muito falsa das evocações; algumas creem que elas consistem em fazer sair da tumba os mortos, com todo o aparato lúgubre. O pouco que a respeito temos dito deverá dissipar tal erro. É só nos romances, nos contos fantásticos de almas do outro mundo e no teatro que aparecem os mortos descarnados, saindo dos sepulcros, envoltos em sudário e fazendo chocalhar os ossos. O Espiritismo, que nunca fez milagres, não produz este e jamais pretendeu fazer reviver um corpo morto.
Quando o corpo está na tumba, não sairá mais dela; porém, o ser espiritual, fluídico e inteligente, aí não se acha com esse grosseiro invólucro, do qual se separou no momento da morte, e, uma vez operada essa separação, nada mais há de comum entre eles.
49. A crítica malévola representou as comunicações espíritas como mescladas pelas práticas ridículas e supersticiosas da magia e da nigromancia; se esses homens que falam do Espiritismo, sem conhecê-lo, se dessem ao trabalho de estudá-lo, teriam poupado esses desperdícios de imaginação, que só servem para provar sua ignorância ou má vontade."
"O Que é o Espiritismo", Allan Kardec
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