quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

VIÚVA FOULON: UMA EXISTÊNCIA QUE FOI EXEMPLO


VIÚVA FOULON:

UMA EXISTÊNCIA QUE FOI EXEMPLO
"Na obra "Revista Espírita", de Allan Kardec, encontramos uma nota relativa à desencarnação da senhora Foulon, bem como comunicações que nos deixou, com muita propriedade, quando já se encontrava no plano espiritual.
"O jornal le Siècle, na seção de necrologia de 13 de fevereiro de 1865, publicou a nota seguinte, reproduzida pelo jornal do Havre e pelo de Antibes:
“Uma artista amada e apreciada no Havre, a Sra. Viúva Foulon, hábil miniaturista, faleceu no dia 3 de fevereiro em Antibes, onde tinha ido buscar, num clima mais suave, o restabelecimento da saúde alterada pelo trabalho e pela idade.”
Tendo conhecido pessoalmente e muito intimamente a Sra. Foulon, sentimo-nos feliz por poder completar a justa mas curtíssima notícia acima. Nisto cumprimos um dever de amizade, ao tempo que prestamos uma homenagem merecida a virtudes ignoradas e a um salutar exemplo para todo mundo e para os espíritas em particular, que aqui encontrarão preciosos ensinamentos.
Como artista, a Sra. Foulon tinha um talento notável. Suas obras, justamente apreciadas em muitas exposições, lhe valeram numerosas recompensas honorificas. É, sem dúvida, um mérito, mas que nada tem de excepcional. O que a fazia amada e estimada, o que torna sua memória cara a todos os que a conheceram, é a amenidade de seu caráter; são suas qualidades privadas, cuja extensão só podiam apreciar os que conheciam sua vida íntima, porque, como todos aqueles nos quais é inato o sentimento do bem, ela não os exibia e nem mesmo os suspeitava. Se há alguém sobre quem o egoísmo não tinha o menor domínio, era ela, sem dúvida. Talvez jamais o sentimento de abnegação pessoal tenha ido mais longe. Sempre pronta a sacrificar o repouso, a saúde, os interesses por aqueles a quem podia ser útil, sua vida não foi senão uma longa série de dedicações, assim como não foi, desde a juventude, senão uma longa série de rudes e cruéis provações ante as quais sua coragem, sua resignação e sua perseverança jamais faliram. Não lhe tendo deixado os reveses da fortuna senão o talento como único recurso, foi só com os pincéis, quer dando lições, quer fazendo retratos, que ela educou uma numerosa família e assegurou uma honrosa posição a todos os filhos. É preciso ter conhecido sua vida íntima para saber tudo o que ela suportou de fadigas e privações, todas as dificuldades contra as quais teve de lutar para atingir o seu objetivo. Mas, ah! Sua vista, gasta pelo trabalho fatigante da miniatura, extinguia-se dia a dia; ainda mais algum tempo, e a cegueira, já avançada, teria sido completa.
Quando, há alguns anos, a Sra. Foulon teve conhecimento da Doutrina Espírita, foi para ela um raio de luz. Pareceu-lhe que um véu era retirado de algo que lhe não era desconhecido, mas de que tinha apenas uma vaga intuição. Então, ela o estudou com ardor, mas ao mesmo tempo com essa lucidez de espírito, essa justeza de apreciação que era peculiar à sua alta inteligência. É necessário conhecer todas as perplexidades de sua vida, perplexidades que sempre tinham por móvel, não ela própria, mas os seres que lhe eram caros, para compreender todas as consolações que obteve nessa sublime revelação que lhe dava uma fé inabalável no futuro e lhe mostrava o nada das coisas terrenas. Sem o respeito devido às coisas íntimas, quão grandiosos ensinamentos sairiam do último período dessa vida tão fecunda em emoções! Assim, não lhe faltou a assistência dos bons Espíritos. As instruções e os ensinamentos que houveram por bem prodigalizar a essa alma de escol formam uma coletânea das mais edificantes, mas muito particular, da qual tivemos, mais de uma vez, a felicidade de ser o agente provocador. Também sua morte foi digna de sua vida. Ela viu sua aproximação sem nenhuma apreensão penosa. Para ela era a libertação dos laços terrenos que devia abrir-lhe essa vida espiritual bem-aventurada, com a qual se havia identificado pelo estudo do Espiritismo.
Morreu com calma, porque tinha consciência de ter cumprido a missão que tinha aceitado ao vir à Terra; de ter escrupulosamente cumprido os seus deveres de esposa e de mãe de família, porque, também, durante a vida, tinha abjurado todo ressentimento contra aqueles dos quais podia lastimar-se e que a tinham pago com ingratidão. Ela sempre havia retribuído o mal com o bem, e deixou a vida perdoando a todos, entregando-se por si mesma à bondade e à justiça de Deus. Enfim, morreu com a serenidade que dá uma consciência pura e a certeza de estar menos separada de seus filhos que durante a vida corporal, pois doravante poderia estar com eles em Espírito, em qualquer ponto do globo onde eles estivessem; ajudá-los com seus conselhos e estender-lhes a sua proteção. Agora, qual a sua sorte no mundo onde se encontra? Os espíritas já o pressentem. Deixemos, porém, que ela mesma relate suas impressões."
Deixamos alguns trechos da Sra. Foulon, já no plano espiritual.
"Então, meu amigo, agora estou feliz. Estes pobres olhos que se tinham enfraquecido e só me deixavam a lembrança dos prismas que tinham colorido minha juventude com seu brilho cambiante, abriram-se aqui e reencontraram os esplêndidos horizontes que, em suas vagas reproduções, alguns dos vossos grandes artistas idealizam, mas cuja realidade majestosa, severa, e contudo cheia de encantos, é marcada pela mais completa realidade."
"Desde que me vi gravemente doente, recobrei a firmeza de espírito, perdida pelas mágoas e vicissitudes que por vezes me tinham tornado medrosa durante a minha vida. Eu disse para mim mesma: Tu és Espírito. Esquece a Terra e prepara-te para a transformação de teu ser e vê, pelo pensamento, o caminho luminoso que tua alma deve seguir, ao deixar o corpo, e que a conduzirá, feliz e liberta, às esferas celestes onde doravante viverás."
"Deixo aqui, na Terra, muitos seres que me são caros para abandoná-la definitivamente."
"O amor aproxima as almas. Crede-me, na Terra pode-se estar mais próximo dos que atingiram a perfeição do que daqueles cuja inferioridade e egoísmo fazem turbilhonar em volta da esfera terrestre. A caridade e o amor são dois motores de uma poderosa atração. São o laço que cimenta a união das almas ligadas uma a outra, que persistem a despeito da distância e dos lugares. Só há distância para os corpos materiais. Ela não existe para os Espíritos."
"Revista Espírita", Allan Kardec - Março de 1865

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