quarta-feira, 30 de junho de 2021

LEGISLAÇÃO HUMANA


LEGISLAÇÃO HUMANA
A legislação humana tem tido progressos? Poderíamos reger-nos apenas pelas leis naturais?
A obra "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, aprofunda esta temática.
"794. Poderia a sociedade reger-se unicamente pelas leis naturais, sem o concurso das leis humanas?"
“Poderia, se todos as compreendessem bem. Se os homens as quisessem praticar, elas bastariam. A sociedade, porém, tem suas exigências. São-lhe necessárias leis especiais.”
"795. Qual a causa da instabilidade das leis humanas?"
“Nas épocas de barbaria, eram os mais fortes que faziam as leis, e eles as fizeram para si. À proporção que os homens foram compreendendo melhor a justiça, indispensável se tornou a modificação delas. Mais estáveis se tornam as leis humanas, à medida que se aproximam da verdadeira justiça, isto é, à medida que vão sendo feitas para todos e se identificam com a lei natural.”
Comentário de Allan Kardec:
"A civilização criou necessidades novas para o homem, necessidades relativas à posição social que ele ocupe. Tem-se então que regular, por meio de leis humanas, os direitos e deveres dessa posição. Mas, influenciado pelas suas paixões, ele não raro tem criado direitos e deveres imaginários, que a lei natural condena e que os povos riscam de seus códigos à medida que progridem. A lei natural é imutável e a mesma para todos; a lei humana é variável e progressiva. Na infância das sociedades, só esta pôde consagrar o direito do mais forte."
"796. No estado atual da sociedade, a severidade das leis penais não constitui uma necessidade?"
“Uma sociedade depravada certamente precisa de leis severas. Infelizmente, essas leis mais se destinam a punir o mal depois de feito, do que a lhe secar a fonte. Só a educação poderá reformar os homens, que, então, não precisarão mais de leis tão rigorosas.”
"797. Como poderá o homem ser levado a reformar suas leis?"
“Isso ocorre naturalmente, pela força mesma das coisas e pela influência das pessoas de bem que o guiam na senda do progresso. Muitas leis ele já reformou, e muitas outras reformará. Espera!”
"O Livro dos Espíritos", Allan Kardec

"Sede fortes em coragem..."


"Sede fortes em coragem, perseverança e firmeza, mas humildes de coração, segundo o preceito do Evangelho, e Jesus vos conduzirá através das tormentas e abençoará os vossos trabalhos."

Fénelon, em "Revista Espírita", Allan Kardec - Janeiro de 1865

terça-feira, 29 de junho de 2021

A ARTE E O ESPIRITISMO

A ARTE E O ESPIRITISMO

Poderão as artes regenerar-se com o Espiritismo?
Encontramos este tema abordado, em "Obras Póstumas", de Allan Kardec.
"As preocupações de ordem material se sobrepõem aos cuidados artísticos, mas, como não ser assim, quando os maiores esforços se fazem para concentrar todos os pensamentos do homem na vida carnal e para destruir nele toda esperança, toda aspiração que ultrapasse essa existência? É lógica, inevitável semelhante consequência para aquele que nada vê fora do círculo estreito da efêmera vida presente. Quando a criatura nada percebe atrás de si, nada adiante de si, nada acima de si, em que pode ela concentrar seus pensamentos senão no ponto onde se encontra? O que há de sublime na Arte é a poesia do ideal, que nos transporta para fora da esfera acanhada de nossas atividades. Mas o ideal paira exatamente nessa região extramaterial onde só se penetra pelo pensamento; que a vista corporal não pode varar, mas que a imaginação concebe. Ora, que inspiração pode o Espírito haurir da ideia do nada?
O pintor que unicamente houvesse visto o céu brumoso, as estepes áridas e monótonas da Sibéria e que julgasse estar ali todo o Universo, poderia conceber e descrever o brilho e a riqueza de tons da Natureza tropical? Como querereis que os vossos artistas e os vossos poetas vos transportem a regiões que eles não veem com os olhos da alma, que não compreendem e nas quais nem mesmo creem?
O Espírito somente pode identificar-se com o que sabe ou crê ser a verdade e essa verdade, embora de ordem moral, se lhe torna uma realidade que tanto melhor ele exprime, quanto melhor a sente. Se à inteligência da coisa junta a flexibilidade do talento, faz que suas próprias impressões se transmitam às almas dos outros. Mas que impressões pode provocar nos outros aquele que não as tem?
Para o materialista, a realidade é a Terra; seu corpo é tudo, pois que, além dele, nada mais há, visto que a sua própria mente se extingue com a desorganização da matéria, como o fogo com o combustível. Não pode, portanto, com a linguagem da Arte, exprimir senão o que vê e sente. Ora, se ele só vê e sente a matéria tangível, unicamente isso lhe é possível exprimir. Nada pode haurir de onde apenas vê o vazio. Se se aventura por um mundo que desconhece, entra aí como cego e, malgrado os esforços que empregue para elevar-se ao diapasão do idealismo, fica no terra a terra, como um pássaro sem asas.
A decadência das Artes, neste século, resultou inevitavelmente da concentração dos pensamentos sobre as coisas materiais, concentração essa que, a seu turno, é o resultado da ausência de toda crença, de toda fé na espiritualidade do ser. O século apenas colhe o que semeou. Quem semeia pedras não pode colher frutas. As Artes não sairão do torpor em que jazem, senão por meio de uma reação no sentido das ideias espiritualistas.
Como poderiam o pintor, o poeta, o literato, o músico ligar seus nomes a obras duráveis, quando, em sua maioria, eles próprios não creem no futuro de seus trabalhos; quando não se apercebem de que a Lei do Progresso, força invencível que arrasta os Universos pela estrada do infinito, lhes pede mais do que descoradas cópias das criações magistrais dos artistas dos tempos idos! Toda gente se lembra dos Fídias, dos Apeles, dos Rafaéis, dos Miguéis Ângelos, luminosos faróis que se destacam da obscuridade dos séculos transcorridos, como fúlgidas estrelas em meio de profundas trevas, mas quem se lembrará de notar o claror de uma lâmpada a lutar contra o brilho do sol de um dia de verão?
O mundo caminhou a passos gigantescos desde os tempos históricos; os filósofos dos povos primitivos gradualmente se transformaram. As Artes que se apoiam nas filosofias que lhes são a consagração idealizada, também tiveram que se modificar e transformar. É matematicamente certo dizer-se que, sem crença, as Artes carecem de vitalidade e que toda transformação filosófica acarreta necessariamente uma transformação artística paralela.
Em todas as épocas de transformação, as Artes periclitam, porque a crença em que se estribam não basta às aspirações engrandecidas da Humanidade e porque, não estando ainda adotadas pela grande maioria dos homens os novos princípios, os artistas não ousam explorar, senão de modo hesitante, a mina desconhecida que se lhes abre sob os passos.
Durante as épocas primitivas, em que os homens unicamente conheciam a vida material, em que a Filosofia divinizava a Natureza, a Arte buscou, antes de tudo, a perfeição da forma. A beleza corporal era, então, a qualidade capital; a Arte se aplicou em a reproduzir e idealizar. Mais tarde, a Filosofia enveredou por nova senda; os homens, progredindo, reconheceram que acima da matéria havia uma potência criadora e organizadora, que recompensava os bons, punia os maus e fazia da caridade uma lei. Um mundo novo, o mundo moral se edificou sobre as ruínas do mundo antigo. Dessa transformação nasceu uma Arte nova que fez palpitasse a alma sob a forma e juntou à percepção plástica a expressão de sentimentos que os antigos desconheceram.
A ideia viveu sob a matéria, mas revestiu as formas severas da Filosofia em que a Arte se inspirava. Às tragédias de Ésquilo, aos mármores de Milo, sucederam as descrições e as pinturas das torturas físicas e morais dos réprobos. A Arte se elevou; revestiu caráter grandioso e sublime, porém ainda sombrio. Ela está toda, com efeito, na pintura do inferno e do céu da Idade Média, na de sofrimentos eternos, ou de uma beatitude muito distante, colocada tão alto, que nos parece quase inacessível; é talvez por isso que ela nos toca tão pouco, quando a vemos reproduzida na tela ou no mármore.
Também hoje, ninguém ousaria contestá-lo, o mundo está num período de transição, solicitado violentamente por hábitos obsoletos, crenças precárias do passado e verdades novas, que lhe são progressivamente desvendadas.
Assim como a arte cristã sucedeu à arte pagã, transformando-a, a arte espírita será o complemento e a transformação da arte cristã. O Espiritismo, efetivamente, nos mostra o porvir sob uma luz nova e mais ao nosso alcance. Por ele, a felicidade está mais perto de nós, está ao nosso lado, nos Espíritos que nos cercam e que jamais deixaram de estar em relação conosco. A morada dos eleitos, a dos condenados já não se acham insuladas; há incessante solidariedade entre o Céu e a Terra, entre todos os mundos de todos os Universos; a ventura consiste no amor mútuo de todas as criaturas que chegam à perfeição e numa constante atividade, com o objetivo de instruir e conduzir àquela mesma perfeição os que se tornaram retardatários. O inferno está no próprio coração do culpado, que tem nos remorsos o seu castigo, não mais, todavia, eterno, e ao mau, que toma o caminho do arrependimento, se depara de novo a esperança, sublime consolação dos desgraçados.
Que inesgotáveis fontes de inspiração para a Arte! Que obras-primas de todos os gêneros as novas ideias suscitarão, pela reprodução das cenas tão multiplicadas e várias da vida espírita! Em vez de representar despojos frios e inanimados, ver-se-á uma mãe tendo ao lado a filha querida em sua forma radiosa e etérea; a vítima a perdoar ao seu algoz; o criminoso a fugir em vão ao espetáculo, de contínuo renascente, de suas ações culposas! o insulamento do egoísta e do orgulhoso, em meio da multidão; a perturbação do Espírito que volve à vida espiritual etc. etc. E, se o artista quiser elevar-se acima da esfera terrestre, aos mundos superiores, verdadeiros édens onde os Espíritos adiantados gozam da felicidade que conquistaram, ou, se desejar reproduzir alguns aspectos dos mundos inferiores, verdadeiros infernos onde reinam soberanamente as paixões, que cenas emocionantes, que quadros palpitantes de interesse se lhe depararão!
Sem dúvida, o Espiritismo abre à Arte um campo inteiramente novo, imenso e ainda inexplorado. Quando o artista houver de reproduzir com convicção o mundo espírita, haurirá nessa fonte as mais sublimes inspirações e seu nome viverá nos séculos vindouros, porque, às preocupações de ordem material e efêmeras da vida presente, sobreporá o estado da vida futura e eterna da alma."
"Obras Póstumas", Allan Kardec

segunda-feira, 28 de junho de 2021

OS ESPÍRITOS ERRANTES SÃO FELIZES OU INFELIZES?

OS ESPÍRITOS ERRANTES SÃO FELIZES OU INFELIZES?

Tema inserido por Allan Kardec, na obra "O Livro dos Espíritos":
"231. São felizes ou desgraçados os Espíritos errantes?
“Mais ou menos, conforme seus méritos. Sofrem por efeito das paixões cujo princípio conservaram, ou são felizes, de conformidade com o grau de desmaterialização a que hajam chegado. Na erraticidade, o Espírito percebe o que lhe falta para ser mais feliz e, desde então, procura os meios de alcançá-lo. Nem sempre, porém, lhe é permitido reencarnar segundo sua vontade, representando isso, para ele, uma punição.”

domingo, 27 de junho de 2021

POSSESSÃO

POSSESSÃO

Esclarecimento inserido por Allan Kardec, na obra "O Livro dos Médiuns":
"241. Dava-se outrora o nome de possessão ao império exercido por maus Espíritos, quando a influência deles ia até a aberração das faculdades da vítima. A possessão seria, para nós, sinônimo da subjugação. Por dois motivos deixamos de adotar esse termo: primeiro, porque implica a crença de seres criados para o mal e perpetuamente votados ao mal, enquanto não há senão seres mais ou menos imperfeitos, os quais todos podem melhorar-se; segundo, porque implica igualmente a ideia do apoderamento de um corpo por um Espírito estranho, de uma espécie de coabitação, ao passo que o que há é apenas constrangimento. A palavra subjugação exprime perfeitamente a ideia. Assim, para nós, não há possessos, no sentido vulgar do termo, há somente obsidiados, subjugados e fascinados."

sábado, 26 de junho de 2021

"A moral espírita ensina-nos a suportar a desgraça sem..."

"A moral espírita ensina-nos a suportar a desgraça sem desprezá-la; a gozar a felicidade sem a ela nos apegarmos. Direi que ela nos rebaixa sem nos humilhar, como nos eleva sem nos ensoberbecer; coloca-nos acima dos interesses materiais, sem por isto estigmatizá-los com o aviltamento, porque nos ensina, ao contrário, que todas as vantagens com que somos favorecidos são outras tantas forças que nos são confiadas e por cujo emprego somos responsáveis para connosco e para com os outros."

"Revista Espírita", Allan Kardec - Fevereiro de 1866

A VIA LÁCTEA

A VIA LÁCTEA

Tema inserido por Allan Kardec, na obra "A Génese":
"A Via Láctea"
"32. Pelas belas noites estreladas e sem luar, toda gente há contemplado essa faixa esbranquiçada que atravessa o céu de uma extremidade a outra e que os antigos cognominaram de Via Láctea, por motivo da sua aparência leitosa. Esse clarão difuso o olho do telescópio o tem longamente explorado nos modernos tempos; essa estrada de poeira de ouro, esse regato de leite da mitologia antiga se transformou num vasto campo de desconhecidas maravilhas. As pesquisas dos observadores conduziram ao conhecimento da sua natureza e revelaram que, ali, onde o olhar errante apenas percebia uma fraca luminosidade, há milhões de sóis mais luminosos e mais importantes do que o que nos clareia a Terra.
33. Com efeito, a Via Láctea é uma campina semeada de flores solares e planetárias, que brilham em toda a sua enorme extensão. O nosso Sol e todos os corpos que o acompanham fazem parte desse conjunto de globos radiosos que formam a Via Láctea. Malgrado, porém, as suas proporções gigantescas, relativamente à Terra, e à grandeza do seu império, ele, o Sol, ocupa inapreciável lugar em tão vasta criação. Podem contar-se por uma trintena de milhões os sóis que, à sua semelhança, gravitam nessa imensa região, afastados uns dos outros de mais de cem mil vezes o raio da órbita terrestre. (Mais de 3 trilhões e 400 bilhões de léguas.)
34. Por esse cálculo aproximativo se pode julgar da extensão de tal região sideral e da relação que existe entre o nosso sistema planetário e a universalidade dos sistemas que o ocupam. Pode-se igualmente julgar da exiguidade do domínio solar e, a fortiori, do nada que é a nossa pequenina Terra. Que seria, então, se se considerassem os seres que a povoam!
Digo — “do nada” — porque as nossas determinações se aplicam não só à extensão material, física, dos corpos que estudamos — o que pouco seria — mas, também e sobretudo, ao estado moral deles como habitação e ao grau que ocupam na eterna hierarquia dos seres. A criação se mostra aí em toda a sua majestade, engendrando e propagando, em torno do mundo solar e em cada um dos sistemas que o rodeiam por todos os lados, as manifestações da vida e da inteligência.
35. Assim, fica-se conhecendo a posição que o nosso Sol ou a Terra ocupam no mundo das estrelas. Ainda maior peso ganharão estas considerações, se refletirmos sobre o estado mesmo da Via Láctea que, na imensidade das criações siderais, não representa mais do que um ponto insensível e inapreciável, vista de longe, porquanto ela não é mais do que uma nebulosa estelar, entre os milhões das que existem no espaço. Se ela nos parece mais vasta e mais rica do que outras, é pela única razão de que nos cerca e se desenvolve em toda a sua extensão sob os nossos olhares, ao passo que as outras, sumidas nas profundezas insondáveis, mal se deixam entrever.
36. Ora, sabendo-se que a Terra nada é, ou quase nada, no sistema solar; que este nada é, ou quase nada, na Via Láctea; esta por sua vez é nada, ou quase nada, na universalidade das nebulosas e essa própria universalidade é bem pouca coisa dentro do imensurável infinito, começa-se a compreender o que é o globo terrestre."

COMO É O ESPAÇO UNIVERSAL?

COMO É O ESPAÇO UNIVERSAL?

Como é o espaço universal? Quais são as suas características? Será finito ou ilimitado?
A obra "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec elucida-nos a esse respeito.
"35. O espaço universal é infinito ou limitado?"
“Infinito. Supõe-no limitado: que haveria para lá de seus limites? Isto te confunde a razão, bem o sei; no entanto, a razão te diz que não pode ser de outro modo. O mesmo se dá com o infinito em todas as coisas. Não é na pequenina esfera em que vos achais que podereis compreendê-lo.”
Comentário de Allan Kardec:
"Supondo-se um limite ao espaço, por mais distante que a imaginação o coloque, a razão diz que além desse limite alguma coisa há e assim, gradativamente, até ao infinito, porquanto, embora essa alguma coisa fosse o vazio absoluto, ainda seria espaço."
"36. O vácuo absoluto existe em alguma parte no espaço universal?"
“Não, não há o vácuo. O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.”
"O Livro dos Espíritos", Allan Kardec

sexta-feira, 25 de junho de 2021

AVAREZA

AVAREZA

Tema inserido por Allan Kardec, na "Revista Espírita" (1858):
"Tu que possuis, escuta-me. Um dia dois filhos do mesmo pai receberam cada um seu alqueire de trigo. O mais velho fechou o seu num lugar retirado. O outro encontrou no caminho um pobre que pedia esmolas, correu para ele a despejar em seu manto a metade do trigo que recebera. Depois, seguiu seu caminho e foi semear o resto no campo paterno.
Por esse tempo veio uma grande fome e as aves do céu morriam à beira dos caminhos. O irmão mais velho correu ao seu esconderijo, mas ali só encontrou poeira. O caçula ia tristemente contemplar seu trigo seco no pé, quando deparou com o pobre que havia ajudado. ─ Irmão, disse-lhe o mendigo, eu estava morrendo e tu me socorreste; agora que a esperança secou em teu coração, segue-me. Teu meio alqueire rendeu cinco vezes em minhas mãos. Matarei a tua fome e viverás em abundância."
II
"Escuta-me, avarento! Conheces a felicidade? Sim, não é? Teus olhos brilham com reflexos sombrios nas órbitas que a avareza tornou mais profundas; teus lábios se cerram; tuas narinas se dilatam e teus ouvidos ficam atentos. Sim, eu escuto: é o tinir do ouro que tua mão acaricia, ao se derramar no teu escaninho. Tu dizes: que suprema volúpia! Silêncio, vem gente! Fecha depressa! Oh! Como estás pálido! Teu corpo todo estremece. Domina-te! Os passos se afastam. Abre! Olha ainda o teu ouro. Abre! Não tremas. Estás perfeitamente só. Ouves? Não é nada. É o vento que geme nas frestas. Olha! Quanto ouro! Mergulha as mãos; faze soar o metal. Tu és feliz.
Feliz, tu! Mas a noite não te dá repouso, e teu sono é povoado de fantasmas.
Tens frio! Aproxima-te da lareira. Aquece-te a esse fogo que crepita tão alegremente. Cai neve; o viajante friorento envolve-se em seu manto; o pobre tirita sob os andrajos. A chama da lareira diminui; atira mais lenha. Não; para! É o teu ouro que consomes com essa madeira; é o teu ouro que queimas!
Tens fome! Olha, toma, sacia-te. Tudo isto é teu. Pagaste com o teu ouro. Com o teu ouro! Esta abundância te revolta; este supérfluo será necessário para manter-se a vida? Não, este pedaço de pão será bastante; ainda é muito. Tuas roupas caem em frangalhos; tua casa se fende e ameaça ruína; sofrerás frio e fome; mas que importa! Tens ouro!
Infeliz! A morte vai separar-te deste ouro. Deixá-lo-ás à borda de teu túmulo, como a poeira que o viajante sacode à soleira da porta, onde a família querida o espera para festejar o regresso.
Teu sangue enfraquecido, envelhecido por tua voluntária miséria, gelou-se em tuas veias. Os herdeiros ávidos atiram teu corpo a um recanto de cemitério; eis-te face a face com a eternidade. Miserável! Que fizeste desse ouro que te foi confiado para aliviar o pobre? Ouves estas blasfêmias? Vês estas lágrimas? Vês este sangue? São as blasfêmias dos sofrimentos que terias podido acalmar; são as lágrimas que fizeste correr; é o sangue que derramaste. Tens horror a ti mesmo; desejarias fugir e não podes. Sofres, desesperado! Tu te contorces no teu sofrimento. Sofre! Não haverá piedade para contigo! Não tiveste entranhas para o teu irmão infeliz. Quem teria para ti? Sofre! Sofre sempre! Teu suplício não terá fim. Para te punir, Deus quer que assim o creias."
OBSERVAÇÃO: "Ouvindo o fim destas eloquentes e poéticas palavras, estávamos surpreendidos por ouvir São Luís falar da eternidade dos sofrimentos, quando todos os Espíritos superiores são concordes em combater tal crença, quando as últimas palavras: para te punir, Deus quer que assim o CREIAS, tudo explicaram. Nós as reproduzimos nos caracteres gerais dos Espíritos da terceira ordem. Com efeito, quanto mais imperfeitos os Espíritos, mais restritas e circunscritas as suas ideias. Para eles o futuro é vago, e não o compreendem. Eles sofrem; seus sofrimentos são longos, e para quem sofre há muito tempo, isto é sofrer sempre. Este pensamento, por si só, é um castigo."
"Revista Espírita", Allan Kardec - Fevereiro de 1858

quinta-feira, 24 de junho de 2021

TRANSFIGURAÇÃO

TRANSFIGURAÇÃO

Na obra "A Génese", Allan Kardec traz-nos esclarecimentos sobre este episódio da vida de Jesus:
"Transfiguração"
"43. Seis dias depois, tendo chamado de parte a Pedro, Tiago e João, Jesus os levou consigo a um alto monte afastado e se transfigurou diante deles. - Enquanto orava, seu rosto pareceu inteiramente outro; suas vestes se tornaram brilhantemente luminosas e brancas qual a neve, como não há pisoeiro na Terra que possa fazer alguma tão alva. — E eles viram aparecer Elias e Moisés, a entreter palestra com Jesus.
Nota de Allan Kardec: O Monte Tabor, a sudoeste do lago de Tabarich e a 11 quilômetros a sudeste de Nazaré, com cerca de 1.000 metros de altura.
Então, disse Pedro a Jesus: “Mestre, estamos bem aqui; façamos três tendas: uma para ti, outra para Moisés, outra para Elias.” — É que ele não sabia o que dizia, tão espantado estava. Ao mesmo tempo, apareceu uma nuvem que os cobriu; e, dessa nuvem, uma voz partiu, fazendo ouvir estas palavras: “Este é meu Filho bem-amado; escutai-o.”
Logo, olhando para todos os lados, a ninguém mais viram, senão a Jesus, que ficara a sós com eles. Quando desciam do monte, ordenou-lhes Ele que a ninguém falassem do que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dentre os mortos. — E eles conservaram em segredo o fato, inquirindo uns dos outros o que teria Ele querido dizer com estas palavras: “Até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dentre os mortos.” (Marcos, 9:1 a 9.)
44. É ainda nas propriedades do fluido perispirítico que se encontra a explicação deste fenômeno. A transfiguração, explicada no cap. XIV, item 39, é um fato muito comum que, em virtude da irradiação fluídica, pode modificar a aparência de um indivíduo; mas, a pureza do perispírito de Jesus permitiu que seu Espírito lhe desse excepcional fulgor. Quanto à aparição de Moisés e Elias cabe inteiramente no rol de todos os fenômenos do mesmo gênero. (Cap. XIV, itens 35 e seguintes.)
De todas faculdades que Jesus revelou, nenhuma se pode apontar estranha às condições da humanidade e que se não encontre comumente nos homens, porque estão todas na ordem da natureza. Pela superioridade, porém, da sua essência moral e de suas qualidades fluídicas, aquelas faculdades atingiam nele proporções muito acima das que são vulgares. Posto de lado o seu envoltório carnal, Ele nos patenteava o estado dos puros Espíritos."

quarta-feira, 23 de junho de 2021

POLIGAMIA

POLIGAMIA

Tema inserido por Allan Kardec, na obra "O Livro dos Espíritos":
"POLIGAMIA"
"700. A igualdade numérica, que mais ou menos existe entre os sexos, constitui indício da proporção em que devam unir-se?
“Sim, porquanto tudo, em a Natureza, tem um fim.”
701. Qual das duas, a poligamia ou a monogamia, é mais conforme à lei da Natureza?
“A poligamia é lei humana cuja abolição marca um progresso social. O casamento, segundo as vistas de Deus, tem que se fundar na afeição dos seres que se unem. Na poligamia não há afeição real: há apenas sensualidade.”
[Nota de Allan Kardec] Se a poligamia fosse conforme à lei da Natureza, devera ter possibilidade de tornar-se universal, o que seria materialmente impossível, dada a igualdade numérica dos sexos. Deve ser considerada como um uso ou legislação especial apropriada a certos costumes e que o aperfeiçoamento social fez que desaparecesse pouco a pouco."

terça-feira, 22 de junho de 2021

ADORAR

ADORAR

A adoração é tema inserido por Allan Kardec, na obra "O Livro dos Espíritos":
"649. Em que consiste a adoração?
“Na elevação do pensamento a Deus. Deste, pela adoração, aproxima o homem sua alma.”
650. Origina-se de um sentimento inato a adoração, ou é fruto de ensino?
“Sentimento inato, como o da existência de Deus. A consciência da sua fraqueza leva o homem a curvar-se diante daquele que o pode proteger.”
651. Terá havido povos destituídos de todo sentimento de adoração?
“Não, que nunca houve povos de ateus. Todos compreendem que acima de tudo há um Ente Supremo.”
652. Poder-se-á considerar a lei natural como fonte originária da adoração?
“A adoração está na lei natural, pois resulta de um sentimento inato no homem. Por essa razão é que existe entre todos os povos, se bem que sob formas diferentes.”

segunda-feira, 21 de junho de 2021

HOMICÍDIO

HOMICÍDIO

Tema inserido por Allan Kardec, na obra "O Livro dos Espíritos":
"746. É crime aos olhos de Deus o assassínio?
“Grande crime, pois que aquele que tira a vida ao seu semelhante corta o fio de uma existência de expiação ou de missão. Aí é que está o mal.”
747. É sempre do mesmo grau a culpabilidade em todos os casos de assassínio?
“Já o temos dito: Deus é justo, julga mais pela intenção do que pelo fato.”
748. Em caso de legítima defesa, escusa Deus o assassínio?
“Só a necessidade o pode escusar. Mas, desde que o agredido possa preservar sua vida, sem atentar contra a de seu agressor, deve fazê-lo.”
749. Tem o homem culpa dos assassínios que pratica durante a guerra?
“Não, quando constrangido pela força; mas é culpado das crueldades que cometa, sendo-lhe também levado em conta o sentimento de humanidade com que proceda.”
750. Qual o mais condenável aos olhos de Deus, o parricídio ou o infanticídio?
“Ambos o são igualmente, porque todo crime é um crime.”
751. Como se explica que entre alguns povos, já adiantados sob o ponto de vista intelectual, o infanticídio seja um costume e esteja consagrado pela legislação?
“O desenvolvimento intelectual não implica a necessidade do bem. Um Espírito, superior em inteligência, pode ser mau. Isso se dá com aquele que muito tem vivido sem se melhorar: apenas sabe.”

domingo, 20 de junho de 2021

O QUE NOS TRAZ O ESPIRITISMO?

O QUE NOS TRAZ O ESPIRITISMO?

Em "A Génese", de Allan Kardec, temos acesso a todo um capítulo repleto de explicações acerca da Doutrina Espírita: "Caráter da revelação espírita".
Vejamos, no trecho que se segue, o que o Espiritismo pode dar-nos. Possa o nosso coração estar disponível para receber.
"O Espiritismo, partindo das próprias palavras do Cristo, como este partiu das de Moisés, é consequência direta da sua doutrina. À ideia vaga da vida futura acrescenta a revelação da existência do mundo invisível que nos rodeia e povoa o espaço, e com isso precisa a crença, dá-lhe um corpo, uma consistência, uma realidade à ideia. Define os laços que unem a alma ao corpo e levanta o véu que ocultava aos homens os mistérios do nascimento e da morte. Pelo Espiritismo, o homem sabe donde vem, para onde vai, por que está na Terra, por que sofre temporariamente e vê por toda parte a justiça de Deus. Sabe que a alma progride incessantemente, através de uma série de existências sucessivas, até atingir o grau de perfeição que a aproxima de Deus. Sabe que todas as almas, tendo um mesmo ponto de origem, são criadas iguais, com idêntica aptidão para progredir, em virtude do seu livre-arbítrio; que todas são da mesma essência e que não há entre elas diferença, senão quanto ao progresso realizado; que todas têm o mesmo destino e alcançarão a mesma meta, mais ou menos rapidamente, pelo trabalho e boa vontade. Sabe que não há criaturas deserdadas, nem mais favorecidas umas do que outras; que Deus a nenhuma criou privilegiada e dispensada do trabalho imposto às outras para progredirem; que não há seres perpetuamente votados ao mal e ao sofrimento; que os que se designam pelo nome de demônios são Espíritos ainda atrasados e imperfeitos, que praticam o mal no espaço, como o praticavam na Terra, mas que se adiantarão e aperfeiçoarão; que os anjos ou Espíritos puros não são seres à parte na criação, mas Espíritos que chegaram à meta, depois de terem percorrido a estrada do progresso; que, por essa forma, não há criações múltiplas, nem diferentes categorias entre os seres inteligentes, mas que toda a criação deriva da grande lei de unidade que rege o universo e que todos os seres gravitam para um fim comum, que é a perfeição, sem que uns sejam favorecidos à custa de outros, visto serem todos filhos das suas próprias obras."
"A Génese", Allan Kardec

"O progresso realizado..."

"O progresso realizado jamais se perde."

"Revista Espírita", Allan Kardec - Fevereiro de 1866

sábado, 19 de junho de 2021

QUAL A CAUSA DO MAL?

QUAL A CAUSA DO MAL?

Em "A Génese", de Allan Kardec, encontramos um capítulo dedicado às temáticas do bem e do mal.
Observemos a elucidação ao tema em apreço.
"O mal existe e tem uma causa.
Os males de toda espécie, físicos ou morais, que afligem a Humanidade, formam duas categorias que importa distinguir: a dos males que o homem pode evitar e a dos que lhe independem da vontade. Entre os últimos, cumpre se incluam os flagelos naturais.
O homem, cujas faculdades são restritas, não pode penetrar, nem abarcar o conjunto dos desígnios do Criador; aprecia as coisas do ponto de vista da sua personalidade, dos interesses factícios e convencionais que criou para si mesmo e que não se compreendem na ordem da Natureza. Por isso é que, muitas vezes, se lhe afigura mau e injusto aquilo que consideraria justo e admirável, se lhe conhecesse a causa, o objetivo, o resultado definitivo. Pesquisando a razão de ser e a utilidade de cada coisa, verificará que tudo traz o sinete da sabedoria infinita e se dobrará a essa sabedoria, mesmo com relação ao que lhe não seja compreensível."
"4. O homem recebeu em partilha uma inteligência com cujo auxílio lhe é possível conjurar, ou, pelo menos, atenuar os efeitos de todos os flagelos naturais. Quanto mais saber ele adquire e mais se adianta em civilização, tanto menos desastrosos se tornam os flagelos. Com uma organização sábia e previdente, chegará mesmo a lhes neutralizar as consequências, quando não possam ser inteiramente evitados. Assim, com referência, até, aos flagelos que têm certa utilidade para a ordem geral da Natureza e para o futuro, mas que, no presente, causam danos, facultou Deus ao homem os meios de lhes paralisar os efeitos.
Assim é que ele saneia as regiões insalubres, imuniza contra os miasmas pestíferos, fertiliza terras áridas e se industria em preservá-las das inundações; constrói habitações mais salubres, mais sólidas para resistirem aos ventos tão necessários à purificação da atmosfera e se coloca ao abrigo das intempéries. É assim, finalmente, que, pouco a pouco, a necessidade lhe fez criar as ciências, por meio das quais melhora as condições de habitabilidade do globo e aumenta o seu próprio bem-estar."
"A Génese", Allan Kardec

sexta-feira, 18 de junho de 2021

MEDIUNIDADE: COMUNICAÇÕES DE BONS ESPÍRITOS

MEDIUNIDADE:

COMUNICAÇÕES DE BONS ESPÍRITOS
Tema inserido por Allan Kardec, na obra "O Livro dos Médiuns":
"Quando quiserdes receber comunicações de bons Espíritos, importa vos prepareis para esse favor pelo recolhimento, por intenções puras e pelo desejo de fazer o bem, tendo em vista o progresso geral. Porque, lembrai-vos, o egoísmo é causa de retardamento a todo progresso. Lembrai-vos de que se Deus permite que alguns dentre vós recebam o sopro daqueles de seus filhos que, pela sua conduta, souberam fazer-se merecedores de lhe compreender a infinita bondade, é que Ele quer, por solicitação nossa e atendendo às vossas boas intenções, dar-vos os meios de avançardes no caminho que a Ele conduz.
Assim, pois, médiuns! aproveitai dessa faculdade que Deus houve por bem conceder-vos. Tende fé na mansuetude do nosso Mestre; ponde sempre em prática a caridade; não vos canseis jamais de exercitar essa virtude sublime, assim como a tolerância. Estejam sempre as vossas ações de harmonia com a vossa consciência e tereis nisso um meio certo de centuplicardes a vossa felicidade nessa vida passageira e de preparardes para vós mesmos uma existência mil vezes ainda mais suave. Que, dentre vós, o médium que não se sinta com forças para perseverar no ensino espírita se abstenha; porquanto, não fazendo proveitosa a luz que o ilumina, será menos escusável do que outro qualquer e terá que expiar a sua cegueira.
Pascal"

quinta-feira, 17 de junho de 2021

DIFERENÇAS MORAIS E INTELECTUAIS

DIFERENÇAS MORAIS E INTELECTUAIS

Terá Deus criado almas diferentes quanto a aspectos morais e intelectuais?
A que se devem as diferenças que constatamos a esse nível?
Vejamos a resposta na obra "O Que é o Espiritismo", de Allan Kardec.
"112. Criou Deus as almas iguais moral e intelectualmente, ou fê-las mais perfeitas e inteligentes umas que as outras?
Se Deus as houvesse feito umas mais perfeitas que as outras, não conciliaria essa preferência com a justiça. Sendo todas as criaturas obra sua, por que dispensaria ele do trabalho umas, quando o impõe a outras para alcançarem a felicidade eterna? A desigualdade das almas em sua origem seria a negação da Justiça de Deus.
113. Se as almas são criadas iguais, como explicar a diversidade de aptidões e predisposições naturais que notamos entre os homens na Terra?
Essa diversidade é a consequência do progresso feito pela alma, antes da sua união ao corpo. As almas mais adiantadas, em inteligência e moralidade, são as que têm vivido mais e mais progredido antes de sua encarnação.
114. Qual o estado da alma em sua origem?
As almas são criadas simples e ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento do bem e do mal, mas com igual aptidão para tudo. A princípio, encontram-se numa espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de sua existência. Pouco a pouco o livre-arbítrio se desenvolve, ao mesmo tempo que as ideias. (Ver O Livro dos Espíritos, questão 114 e seguintes.)
115. Fez a alma esse progresso anterior no estado de alma propriamente dita, ou em precedente existência corporal?
"Além do ensino dos Espíritos sobre esse ponto, o estudo dos diferentes graus de adiantamento do homem, na Terra, prova que o progresso anterior da alma deve fazer-se em uma série de existências corporais, mais ou menos numerosas, segundo o grau a que ele chegou; a prova disto está na observação dos fatos que diariamente estão sob os nossos olhos. (Ver O Livro dos Espíritos, questão 166 a 222. Revista espírita, abril de 1862.)"
"O Que é o Espiritismo", Allan Kardec